Formalização e apoio público impulsionam vinificação em pequenas propriedades da Serra Gaúcha

Caso da Casa Hevian ilustra como a regularização e o mercado ativo abrem espaço para novos rótulos e para produtores que desejam agregar valor à uva
Os proprietários Jane Alves e Tiago Scopel receberam certificado – Foto: Ícaro de Campos

A entrada da Vinícola Casa Hevian no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF) marca um momento significativo para pequenos produtores que avaliam iniciar ou ampliar sua própria vinificação. O movimento reflete uma tendência nacional, na qual agricultores buscam agregar valor à uva, diversificar renda e ocupar nichos de mercado que seguem abertos a novos produtos, desde que tenham procedência e regularização.

Localizada em Vila Seca, interior de Caxias do Sul, a Casa Hevian trabalha em um modelo híbrido de elaboração que combina técnicas tradicionais com processos contemporâneos acessíveis à realidade de produtores de pequeno porte. A empresa mantém sete hectares de vinhedos, muitos deles com mais de um século, preservando a história da família Scopel e o cultivo de variedades que caracterizam a Serra Gaúcha.

Foto: Ícaro de Campos

Assim como diversos produtores rurais, a vinícola começou de forma informal. Em 2019, os primeiros vinhos foram elaborados para consumo da família. A boa aceitação despertou a possibilidade de profissionalizar a atividade. “Um vai falando para o outro e, quando vimos, já não era mais só para casa. Foi aí que decidimos fazer tudo de forma correta e dar segurança a quem consome”, explica a sócia-proprietária, Jane Pereira Alves.

A regularização foi realizada com apoio técnico da Secretaria Municipal da Agricultura, Emater-RS e Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, que orientaram a estrutura física, os ajustes sanitários e os requisitos legais até a inclusão no PEAF. Para muitos produtores, essa etapa costuma parecer difícil, mas a experiência da Casa Hevian mostra o contrário. “O processo não foi complicado. Demorou um pouco porque exigiu investimentos, mas sempre fizemos tudo com capricho. O crédito [Sicredi] certo fez diferença”, comenta Jane.

Hoje, a vinícola elabora cerca de 20 mil litros por ano, entre vinhos de mesa, vinhos finos, espumantes e sucos integrais. O portfólio inclui Niágara, Bordô, Isabel e Lorena, além de Merlot e Cabernet Sauvignon vinificados na propriedade com uvas do Vale dos Vinhedos. O espumante Moscatel, elaborado com segunda fermentação na garrafa, é um dos produtos mais valorizados da marca. Apesar disso, Jane destaca que o estilo não é totalmente artesanal. “Não somos 100% artesanais nem 100% industriais. É uma combinação que preserva sabor, mas nos permite ampliar e organizar melhor a vinificação.”

A família produz cerca de 80 toneladas de uva por safra, das quais a maior parte ainda é destinada a cooperativas. A intenção é aumentar gradualmente a vinificação própria, algo que muitos viticultores brasileiros têm considerado como alternativa econômica, especialmente em contextos de oscilação de preços ou excesso de oferta de uvas no mercado. A valorização de produtos de origem familiar e de vinhos com forte identidade territorial reforça esse movimento.

Para a produtora, a regularização é decisiva para quem deseja crescer. “Sempre há espaço para quem trabalha sério. O consumidor percebe quando o vinho tem procedência e quando há cuidado no processo.” A Casa Hevian também vai apostar em rótulos mais atraentes, maior presença em pontos especializados e ações de divulgação para fortalecer a marca, preferindo permanecer fora das grandes redes neste momento.

O enoturismo está previsto como próxima etapa, acompanhando uma tendência que tem transformado propriedades agrícolas em espaços multifuncionais. A vinícola pretende abrir suas portas em breve, oferecendo visitas aos vinhedos centenários, degustações e apresentação dos processos de vinificação, conectando o público à história e ao território.

Com sua inclusão no PEAF, a Casa Hevian torna-se a 26ª agroindústria familiar regularizada em Caxias do Sul, reforçando o avanço de pequenos empreendimentos que buscam profissionalização, formalização e maior participação no mercado. Esses casos mostram que, mesmo em pequena escala, a vinificação pode ser um caminho viável, estratégico e capaz de ampliar a renda de produtores de uva em diferentes regiões do Brasil.

Foto: Ícaro de Campos

 

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