
A vitivinicultura brasileira acaba de ganhar um reconhecimento de grande peso internacional. A Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV) concedeu o Prêmio OIV 2025 ao livro Latin American Viticulture Adaptation to Climate Change, que reúne pesquisas do Chile, Uruguai e Brasil sobre os impactos das mudanças climáticas na produção de uvas. A obra foi escolhida como uma das melhores do mundo na categoria Sustentabilidade na Viticultura e traz um capítulo assinado pela pesquisadora Patrícia Coelho de Sousa Leão, da Embrapa Semiárido, em coautoria com Jullyanna Nair de Carvalho, docente da Unibras.
O prêmio foi anunciado em Dijon, na França, e colocou o livro no centro das atenções do setor vitivinícola global. A OIV, entidade que reúne países produtores e consumidores e que orienta normas técnicas e científicas adotadas no mundo inteiro, escolhe apenas publicações consideradas essenciais para o avanço do setor. Por isso, a presença de um capítulo brasileiro reforça a visibilidade e o valor da pesquisa conduzida no país.
O texto escrito por Patrícia Leão apresenta uma visão ampla da viticultura brasileira, explicando de forma clara como o país reúne três grandes ambientes produtivos – temperado, subtropical e tropical. Isso significa que os sistemas de produção variam bastante entre as regiões, com ciclos diferentes, manejos específicos e respostas fisiológicas únicas das videiras. O destaque da publicação está no Submédio São Francisco, um dos polos mais avançados do mundo quando se fala em viticultura tropical.
O capítulo explica que o Vale do São Francisco se tornou referência internacional por reunir clima quente e seco, alta insolação, oferta de água para irrigação e um conjunto de tecnologias que permite até três colheitas por ano. Essa combinação colocou a região entre as mais produtivas do planeta. Em 2021, por exemplo, o Vale alcançou produtividade média de 39,8 toneladas por hectare, resultado muito superior às médias brasileira e mundial. Os números também mostram a força do polo nordestino nas exportações, já que 98% das uvas frescas enviadas ao exterior pelo Brasil saem dali.
A publicação descreve ainda como a adoção de tecnologias em irrigação, fertirrigação, condução das plantas, podas adaptadas e manejo de dossel permitiu que a videira se adaptasse ao clima tropical semiárido. Esses avanços explicam por que o modelo brasileiro desperta tanto interesse em outros países que hoje enfrentam secas prolongadas, ondas de calor e instabilidade climática. O Vale do São Francisco funciona como um exemplo real de viticultura resiliente, capaz de manter regularidade e qualidade mesmo em ambientes desafiadores.
A pesquisa detalha também a evolução das cultivares no país, destacando variedades desenvolvidas pela Embrapa, como BRS Vitória, BRS Isis, BRS Melodia e BRS Tainá. Essas uvas ajudaram a consolidar o Brasil como produtor competitivo de uvas sem sementes, hoje muito valorizadas no mercado internacional. Além delas, a publicação aborda o papel das cultivares de empresas internacionais, que ampliaram a diversidade e impulsionaram a modernização da cadeia produtiva.
Para Patrícia Leão, integrar o livro representa o reconhecimento de um trabalho científico construído ao longo de anos. “Participar dessa obra é motivo de orgulho, pois mostra o reconhecimento internacional da pesquisa brasileira contribuindo com soluções sustentáveis e inovadoras para a produção de uvas, particularmente em um ambiente único que é o nosso clima tropical semiárido”, afirma. O conteúdo reforça que a experiência brasileira pode ajudar outros países que buscam caminhos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas sobre a viticultura.
O livro também apresenta uma análise do potencial de crescimento da viticultura tropical no Brasil, discutindo desafios tecnológicos, a importância da integração entre pesquisa e produtores, a expansão do uso de ferramentas de agricultura de precisão e a necessidade de sistemas mais sustentáveis, desde o manejo do solo até o pós-colheita.
Ao premiar a obra, a OIV reconheceu que o conhecimento produzido na América Latina, e especialmente no Brasil, contribui para a construção de soluções globais. O capítulo brasileiro mostra que o país se tornou referência em produtividade, inovação e adaptação climática.
O Portal A Vindima disponibiliza abaixo o link para download da obra para que produtores, técnicos e profissionais de toda a cadeia possam acessar o conteúdo completo, em inglês. A publicação é uma oportunidade única para entender por que a viticultura tropical brasileira está no radar das principais instituições e especialistas do mundo.
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