A 69ª Reunião Ordinária da Câmara Setorial da Vitivinicultura, Vinhos e Derivados (CS Vinhos) reuniu lideranças de todo o país para tratar de três temas estratégicos que podem redefinir o futuro da vitivinicultura brasileira: o Cadastro Vitícola Nacional, os impactos dos herbicidas hormonais, especialmente o 2,4-D, e a revisão da política de preço mínimo da uva. O encontro, realizado em formato híbrido durante a Expointer 2025, em Esteio (RS), destacou a urgência de alinhar dados, políticas e ações diante dos desafios que ameaçam a sustentabilidade do setor.
Nesse contexto, sobre as ameaças e danos que já afetam diretamente a produção, o representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Hélio Marchioro, afirmou que os problemas vão além das variações climáticas e estão ligados à ação humana que compromete a viticultura.
“O ente público vai permitir esse veneno a que custo econômico, social, ambiental e da saúde? Nós estamos com um problema muito maior que os senhores imaginam”, questionou.
A pesquisadora Aline Fogaça alertou que os efeitos nocivos do 2,4-D já atingem praticamente todas as regiões produtoras do Rio Grande do Sul e áreas do Paraná, podendo se expandir para outros estados. Segundo ela, uma videira atingida pode levar até quatro anos para se recuperar, mas em casos de deriva recorrente o resultado é irreversível: declínio produtivo e morte do vinhedo em até 10 anos, inviabilizando novas mudas no mesmo solo.
Diante da gravidade, a presidente da CS Vinhos, Heloísa Bertoli, propôs uma reunião conjunta entre a Câmara da Uva e Vinho, a Câmara da Soja e a Câmara de Insumos, com técnicos do MAPA, para buscar soluções integradas e cientificamente embasadas.
“O setor precisa se unir para avançar em temas estruturantes, do cadastro à defesa da viticultura contra herbicidas hormonais, garantindo que a diversidade e a qualidade da produção brasileira sejam preservadas”, destacou Bertoli.
Cadastro Vitícola
Os pesquisadores José Fernando Protas e Joelsio Lazzarotto, da Embrapa Uva e Vinho, apresentaram o relatório final do Projeto SIVIBE – Cadastro Vitícola Nacional, que envolveu 46 polos vitivinícolas em 11 estados (RS, SC, PR, SP, RJ, MG, ES, BA, PE, GO e DF) e contou com a participação de mais de 1.160 produtores.
O painel de dados criado pelo SIVIBE passa a ser considerado estratégico para subsidiar políticas públicas. Protas foi categórico ao destacar que sem informações claras sobre variedades plantadas, porta-enxertos e finalidades (vinho, mesa ou suco), não há como estruturar políticas consistentes.
“Sem cadastro não teremos política setorial bem alicerçada, nem bem conduzida, nem por esta câmara setorial”, alertou.
Embora o Rio Grande do Sul tenha sido o estado que mais alimentou o sistema, os dados ainda ficaram abaixo do esperado. Para que o painel reflita um verdadeiro cenário nacional, é essencial que todos os estados com produção vitivinícola mantenham as informações atualizadas anualmente. O desafio, segundo a Embrapa, é que lideranças estaduais, regionais e locais mobilizem e incentivem os produtores a declarar seus dados no sistema de informação do MAPA.
A obrigatoriedade do cadastro está prevista na Lei nº 7.678/1988, mas ainda depende de articulação para sua efetiva implementação.
Vinho Legal
A presidente Heloísa Bertoli também anunciou uma nova fase da Campanha Vinho Legal, voltada a conscientizar consumidores sobre a importância de adquirir produtos de procedência e os riscos do consumo de vinhos ilegais. A iniciativa, que completa um ano em outubro, é considerada essencial para proteger o mercado formal e valorizar a produção regularizada.
Preço mínimo
Outro ponto apresentado foi a proposta de alteração na política do preço mínimo da uva, apresentada por Ricardo Pagno, da Associação da Comissão Interestadual da Uva (ACIU). Ele defendeu que o valor de referência considere a qualidade do fruto, a partir de parâmetros como grau Brix, garantindo remuneração diferenciada aos produtores que investem em tecnologia e qualidade.
A ideia, porém, gerou divergências entre cooperativas e indústria, e deve continuar em análise nas próximas reuniões da Câmara.
Próximos atividades
O encontro reforçou dois marcos no calendário do setor:
- TecnoVitis 2025: de 3 a 6 de dezembro, em Bento Gonçalves (RS), o evento reunirá soluções para os desafios da viticultura, com entrada gratuita.
- Audiência pública em Brasília: no dia 23 de setembro, a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados promoverá audiência para discutir os “Desafios e oportunidades para o desenvolvimento do setor vitivinícola brasileiro”, requerida pelos deputados Rafael Simões (UNIÃO-MG) e Afonso Hamm (PP-RS).
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