Ciclone derruba parreirais em Flores da Cunha e reforça crise no seguro rural após corte de R$ 445 milhões

Produtores afetados cancelam participação na mobilização em Porto Alegre após estragos

 

O ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul nesta segunda (8) deixou um rastro de destruição em regiões produtivas de Flores da Cunha e Nova Pádua. Ventos intensos derrubaram estruturas, danificaram propriedades rurais e provocaram a queda de dezenas de parreirais — com estimativas iniciais que já ultrapassam 50 áreas afetadas, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais das duas cidades.

Nas primeiras horas desta terça-feira (9) após o evento climático, o presidente do STR, Ricardo Pagno, gravou um vídeo (veja no final da matéria) comunicando os estragos e relatando o cenário ainda em apuração. As localidades de Alfredo Chaves, Medianeira, Travessão Carvalho e comunidades vizinhas estão entre as mais atingidas, onde produtores trabalham para resgatar equipamentos, proteger plantas remanescentes e prestar apoio a famílias cujas casas sofreram danos.

“É uma manhã bastante triste. É um momento de união, então, quem puder, ajude seu o vizinho. Vamos estar ajudando para reconstruir algumas casas e reerguermos os parreirais”, afirmou Pagno. O sindicato e a prefeitura iniciaram um mapeamento detalhado das áreas atingidas e pretendem organizar mutirões de reconstrução nos próximos dias.

A quarta-feira (10) está marcada a mobilização de produtores em Porto Alegre, em protesto contra o corte federal no subsídio do seguro rural. O STR de Flores da Cunha e Nova Pádua já havia organizado ônibus para levar agricultores à capital. Diante da gravidade dos danos do ciclone, porém, a maior parte dos produtores permanecerá na região para auxiliar vizinhos e recuperar propriedades.

Apenas um pequeno grupo representará os produtores destas cidades no ato em frente à Superintendência do Ministério da Agricultura. A comitiva também participará de caminhada até o Palácio Piratini e de reuniões com lideranças sindicais e parlamentares.

Os estragos chegam justamente em um momento crítico para o seguro rural. Em junho, o Ministério da Agricultura bloqueou R$ 354,6 milhões e contingenciou R$ 90,5 milhões do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), reduzindo em 42% o orçamento previsto para 2025.

Com a retirada do subsídio, produtores passaram a receber boletos cobrando o valor integral das apólices, um impacto direto para fruticultores, cuja subvenção federal costumava cobrir cerca de 40% do custo do seguro. Muitos agricultores já relatam dificuldade em manter contratos firmados no início do ano.

Os dados refletem o desaquecimento da demanda. Enquanto 86 mil produtores contrataram mais de 136 mil apólices em 2024, apenas 13 mil haviam aderido ao programa até junho de 2025, segundo o Atlas do Seguro Rural. Para sindicatos e cooperativas, o ciclone evidencia a vulnerabilidade crescente da fruticultura diante de eventos climáticos extremos e reforça a necessidade de políticas de proteção econômica.

Mesmo com parte dos agricultores impossibilitada de viajar, o protesto de quarta-feira está mantido. O setor espera que o governo federal reavalie o contingenciamento e forneça uma solução para garantir a continuidade do seguro rural, especialmente diante dos prejuízos acumulados por estiagens, enchentes e agora pela passagem do ciclone.

O Portal A Vindima continuará acompanhando os impactos nas propriedades, as ações de apoio aos produtores e a evolução das negociações sobre o PSR.

 

 

 

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