Herbicidas Hormonais ameaçam vitivinicultura gaúcha: cooperativas centenárias e culturas sensíveis pedem suspensão imediata

Relatório da Assembleia Legislativa do RS reconhece danos de médio e longo prazos, mas produtores alertam: sem medidas urgentes, vinhedos podem desaparecer já em 2025

 

Sob o risco de fechar as portas, a centenária Cooperativa Agrária São José, de Jaguari, tornou-se símbolo da crise provocada pelos herbicidas hormonais no Rio Grande do Sul. O presidente da entidade, Jefferson Guerra, foi categórico: “Se não houver suspensão este ano, em dois anos vamos encerrar”. A cooperativa, que já chegou a colher mais de 1 milhão de toneladas, hoje se limita a pouco mais de 200 mil, reflexo dos prejuízos causados pela deriva do 2,4-D e outros produtos da mesma classe.

O alerta ecoou no painel “Desafios do setor vitivinícola”, promovido pela RBS na Expointer 2025, quando produtores e entidades do setor expuseram a frustração com o relatório da Subcomissão dos Herbicidas Hormonais da Assembleia Legislativa do RS. Apesar de confirmar os efeitos nocivos de médio e longo prazos sobre culturas sensíveis, o documento propõe medidas graduais, deixando para 2026 a aplicação prática de zonas de exclusão, amortecimento e vazio sanitário. Para os vitivinicultores da Campanha Gaúcha, a espera pode ser fatal: muitos já iniciaram o corte definitivo de parreirais com motosserra.

O diretor-executivo da Fecovinho e conselheiro do Consevitis-RS, Hélio Marchioro, destacou que a questão vai além de falhas técnicas de aplicação. “O termo proibição é questão de sobrevivência. Nós, produtores de maçã, oliveira, uva, noz-pecã, é que estamos proibidos de produzir”, reforçou. Segundo ele, a persistência da deriva ameaça a agricultura familiar em todas as regiões produtoras.

Na mesma linha, Aline Fogaça, presidente da Aliança pela Fruticultura Gaúcha, foi incisiva. “Após a primeira deriva, a parreira precisa de três a quatro anos para se recuperar, mas temos deriva todos os anos. Onde tem deriva é impossível implantar novos vinhedos. Onde tem deriva temos o declínio e a morte das plantas”, ressalta. A dirigente também cobrou mais firmeza da Farsul-RS e criticou a falta de estudos específicos por parte da Embrapa Uva e Vinho e da Emater/RS-Ascar.

Enquanto culturas sensíveis exigem suspensão imediata, representantes da soja defendem o uso contínuo do 2,4-D. Alexandre Foster, da Aprosoja-RS, justificou: “Hoje é a ferramenta mais eficaz e barata que nós temos para enfrentar ervas daninhas”. A fala escancara a polarização: de um lado, a dependência da soja pelo herbicida; de outro, o colapso de vinhedos e frutíferas.

O Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura reconheceu a gravidade. O técnico Ricardo Felicetti afirmou que novas restrições estão em análise. “Proibição é difícil falar, mas a gente pode restringir e exigir mais profissionalismo do produtor, do responsável técnico e da indústria”, pontuou.

José Cleber Souza, superintendente do Ministério da Agricultura-RS, analisou que as medidas atuais não têm sido suficientes. “É necessário evoluir em diálogo com todas as partes, estabelecendo áreas prioritárias”, avalia.

O debate, que já dura mais de uma década no Rio Grande do Sul, agora ganha contornos de urgência. Mais do que um conflito regional, trata-se de uma ameaça à diversidade produtiva brasileira, colocando em xeque vinhedos, pomares e culturas tradicionais. Para os produtores gaúchos, a suspensão imediata do uso dos herbicidas hormonais é a única medida capaz de evitar a destruição definitiva de atividades que moldam a identidade agrícola do Brasil.

 

 

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