O início do verão no Hemisfério Sul, aliado à atuação do fenômeno La Niña, acende um alerta importante para a vitivinicultura brasileira, especialmente na Região Sul. A combinação de períodos prolongados sem chuva, altas temperaturas e aumento da evapotranspiração exige dos viticultores um manejo hídrico mais criterioso e, sobretudo, preventivo. A avaliação é de Deonir Ortigara, gestor da DG Aggro, empresa especializada em irrigação agrícola, que acompanha de perto as condições climáticas nas principais regiões produtoras.
Segundo Ortigara, os primeiros sinais da La Niña já são perceptíveis. “Dentro do Rio Grande do Sul, a Fronteira Oeste ficou mais de 20 dias sem chuva. A tendência é que esse cenário se mantenha ao longo de toda a safra”, explica. Embora a intensidade do fenômeno seja considerada fraca e haja possibilidade de neutralidade climática no primeiro trimestre de 2026, os impactos no campo já exigem atenção imediata.
Para os viticultores que dispõem de sistemas de irrigação, a orientação é operar de forma antecipada. “O grande erro ainda é entrar tarde com a irrigação. Deixar a videira entrar em estresse hídrico compromete a planta, a produção e a qualidade da uva. A irrigação precisa começar antes do estresse, de forma uniforme e constante”, afirma Ortigara. Ele reforça que confiar exclusivamente na previsão de chuva pode ser arriscado em anos de La Niña. “O produtor acredita que vai chover, a chuva não vem, e quando decide irrigar, já é tarde.”
Nas propriedades sem irrigação instalada, o manejo de solo ganha protagonismo como estratégia de mitigação. A manutenção de cobertura vegetal, a melhoria da estrutura do solo e práticas que favoreçam a retenção de umidade são alternativas importantes para reduzir perdas. Ainda assim, Ortigara avalia que o setor precisa avançar no planejamento de longo prazo. “O volume anual de chuva continua praticamente o mesmo de décadas atrás. O problema é a forma como ela ocorre: longos períodos de seca seguidos de chuvas intensas e concentradas, que causam transtornos e não resolvem o déficit hídrico no solo.”
A adoção de tecnologias de automação na irrigação aparece como um diferencial cada vez mais relevante, especialmente diante da escassez de mão de obra no campo. Sistemas automatizados permitem irrigar durante a noite, quando a evapotranspiração é menor, garantindo melhor aproveitamento da água. “Irrigar manualmente por um ou dois dias é possível. Manter esse ritmo por semanas é desumano. A automação veio para dar sustentabilidade ao sistema produtivo”, destaca.
Do ponto de vista climático, boletins agrometeorológicos indicam um verão com chuvas abaixo da média no Rio Grande do Sul, sobretudo entre janeiro e fevereiro, meses críticos para o desenvolvimento das culturas. A previsão aponta temperaturas frequentemente acima dos 30°C, com maior demanda hídrica das plantas. Episódios de chuva devem ocorrer de forma irregular, intercalados por períodos de estiagem de 15 a 20 dias, cenário típico associado à La Niña.
Embora especialistas indiquem que eventos extremos, como tornados e ciclones extratropicais, não estejam diretamente ligados ao fenômeno, o contexto climático reforça a necessidade de gestão de risco no campo. Para a cadeia produtiva da uva e do vinho, isso significa investir em planejamento hídrico, monitoramento do solo e adoção de tecnologias que preservem produtividade e qualidade, pilares essenciais para a competitividade da vitivinicultura brasileira.
Com o verão apenas começando, a mensagem é que antecipação e manejo técnico serão determinantes para atravessar mais uma safra marcada por incertezas climáticas.
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