O anúncio do novo preço mínimo da uva industrial 15º glucométricos para a safra 2026, divulgado pelo Governo Federal na última semana, segue repercutindo na cadeia produtiva da uva e do vinho. O valor de R$ 1,80 por quilo, válido de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2026, foi construído como um acordo setorial entre indústrias, cooperativas e produtores, mas não elimina preocupações sobre a capacidade de cumprimento por parte de todas as empresas.
Pelos cálculos da Conab, o custo variável da uva industrial ficou em R$ 1,72, enquanto o estudo da ACIU apontou um custo de R$ 1,82 para produtores. O valor final de R$ 1,80 surgiu como um meio-termo reconhecido pelo governo devido ao consenso entre entidades — apesar de a Conab indicar um custo menor.
Para Ricardo Pagno, presidente da Associação da Comissão Interestadual da Uva (ACIU), a definição de R$ 1,80 representa um avanço diante da conjuntura atual.
“Foi um acordo construído entre setores. Nosso custo ficou em R$ 1,82 e o da Conab em R$ 1,72, então chegamos ao consenso de R$ 1,80. O governo não queria estabelecer esse valor, mas acatou porque foi um acordo setorial”, explicou Pagno.
Segundo ele, o preço mínimo cobre apenas custos variáveis, deixando de fora despesas fixas que pesam no bolso do produtor. Ainda assim, Pagno considera o reajuste positivo.
“Tivemos um aumento de 11 centavos em relação ao ano passado. Houve empresa falando em pagar R$ 1,50, mas seria um retrocesso. Por isso avaliamos o valor positivamente”, disse.
Pagno também reforça que há estoques elevados de suco e previsão de safra maior, o que reforça a importância de se respeitar o acordo setorial para evitar distorções de mercado.
A análise é mais cautelosa por parte da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho-RS). O diretor-executivo, Hélio Marchioro, afirma que a federação sempre defende o melhor preço possível, mas alerta para um risco recorrente do não cumprimento do acordo por parte de algumas indústrias.
“A Fecovinho sempre fechou muito próxima da posição da Conab, porque temos responsabilidade em não romper acordos possíveis. Quando o preço pago ao produtor não foi o mínimo, foi porque alguém não cumpriu o acordo”, afirmou.
Marchioro explica que, quando indústrias pagam abaixo do pactuado, as cooperativas acabam arcando com a diferença, reduzindo sua competitividade e, na prática, prejudicando o próprio produtor cooperado.
“Quando a cooperativa paga mais que o mercado, ela perde vendas. No fim, quem banca essa diferença é o próprio produtor.”
Sobre o valor de R$ 1,80, Marchioro confirma que a Fecovinho não era contrária ao preço, mas sim ao risco de ele não ser cumprido.
“Não queríamos um valor menor. Queremos um ordenamento setorial com segurança. Nossa preocupação é que o aumento tenha sido desproporcional em relação a outros anos e possa causar descumprimento”, alerta.
O dirigente destaca que, como o valor virou preço mínimo oficial, não haverá margem para que cooperativas façam aportes caso a indústria pague menos.
“Se a indústria não cumprir o acordo, as cooperativas não terão condições de bancar a diferença. Já fizemos isso há poucos anos, e estamos vivendo uma retrospectiva. O associado precisa saber que, em 2026, isso não será possível.”
Com a publicação da Portaria nº 867 (leia aqui) no Diário Oficial da União, o preço mínimo passa a ter força de política pública.
Embora o valor tenha sido construído por consenso, o setor entra em 2026 atento a três fatores:
- cumprimento efetivo do acordo pelas indústrias;
- estoques elevados de suco, que podem pressionar preços;
- previsão de safra maior, ampliando a necessidade de ordenamento.
Para entidades e produtores, o debate sobre preço mínimo reforça um ponto comum: sem respeito aos acordos setoriais, qualquer avanço se torna frágil.
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