
A viticultura orgânica gaúcha, que há anos buscava ganhar espaço no mercado e fortalecer práticas sustentáveis, vive um momento de alerta. Durante a Expointer 2025, em Esteio (RS), produtores e agroindústrias entregaram ao superintendente do Ministério da Agricultura e Pecuária no Estado (SFA/RS), José Cleber Dias de Souza, um manifesto que denuncia as dificuldades enfrentadas pelo setor.
O documento, apresentado pelo conselheiro do Consevitis-RS, Hélio Marchioro, aponta uma queda de 50% na produção de uvas orgânicas nos últimos cinco anos. Segundo o texto, a redução é resultado do aumento da burocracia, exigências legais consideradas inadequadas e entraves no processo de certificação, fatores que têm desestimulado agricultores e comprometido a oferta de vinhos e sucos orgânicos.
Entre os problemas relatados no manifesto estão: atrasos na emissão de certificados, excesso de exigências documentais, restrições de bordaduras em pequenas propriedades, divergências entre certificação participativa e auditoria, limitações no uso de insumos básicos e falta de conhecimento técnico de auditores sobre viticultura.
Para os produtores, tais barreiras representam não apenas obstáculos econômicos, mas um risco de retrocesso em avanços que, embora modestos, vinham consolidando o cultivo orgânico no Estado.
“Sem ajustes nas regras e maior apoio institucional, o setor corre risco de perder ainda mais produtores e comprometer a oferta de alimentos que têm papel fundamental para a saúde, o meio ambiente e a agricultura familiar”, alertou Marchioro, que também é vitivinicultor orgânico em Pinto Bandeira.
Propostas apresentadas
O manifesto sugere medidas como:
• renovação dos certificados em tempo hábil;
• simplificação da burocracia e uniformização de processos;
• exigência de auditores especializados em viticultura;
• revisão das regras sobre bordaduras;
• autorização de insumos como metabissulfito de potássio;
• cadastramento de áreas orgânicas como cultivos sensíveis;
• políticas públicas de incentivo, crédito diferenciado e apoio técnico.
Paralelo com a Áustria
O cenário brasileiro contrasta com o avanço de países como a Áustria, onde 25% dos vinhedos já são orgânicos e 27% têm certificação de sustentabilidade pelo programa Sustainable Austria. Lançado há apenas dez anos, o programa austríaco mobilizou quase 12 mil hectares, com práticas que vão da proibição do glifosato ao uso predominante de energias renováveis.
De acordo com o Austrian Wine, o selo de sustentabilidade é um diferencial competitivo nos principais mercados internacionais e fortalece a imagem dos vinhos austríacos como ambientalmente responsáveis.
Enquanto a Áustria amplia certificações e conquista espaço global, os produtores brasileiros temem perder terreno. Para eles, a falta de políticas públicas efetivas pode inviabilizar a continuidade da viticultura orgânica no Rio Grande do Sul, que já enfrenta queda acentuada na produção e insegurança regulatória.
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