Produtores ocupam sede do MDA em Porto Alegre em ato da FETAG-RS por preços justos, seguro agrícola e renegociação das dívidas rurais

Mesmo sob chuva intensa, agricultores familiares de diversas cadeias, incluindo vitivinicultura, pressionam o Governo Federal por ações urgentes para garantir renda, crédito e permanência no campo
Foto: Divulgação

 

A quarta-feira (10) amanheceu com centenas de viticultores, agricultores e pecuaristas familiares de todas as regiões do Rio Grande do Sul ocupando o centro de Porto Alegre em uma grande mobilização organizada pela FETAG-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura). A manifestação ocorre em meio a uma crise que combina queda nos preços agrícolas, endividamento crescente, redução do acesso ao crédito rural e corte no subsídio do seguro agrícola, aprofundando a vulnerabilidade das famílias que sustentam a agricultura familiar gaúcha.

Mesmo com forte chuva, os manifestantes marcharam pelas ruas da capital e agora ocupam a sede do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), exigindo negociações imediatas com o Governo Federal. Ecoando palavras de ordem como “Agricultor na rua, governo a culpa é tua” e “Sem agricultor, a cidade não almoça e não janta”, o movimento sinaliza o esgotamento da paciência do setor diante da falta de respostas concretas.

A FETAG-RS estima que mais de duas mil pessoas participem ao longo do dia, representando cadeias como leite, trigo, arroz, frutas, hortaliças e vitivinicultura. O cenário é de tensão crescente, e a mobilização deve ser atualizada conforme as negociações avancem.

A manifestação reúne reivindicações que se acumulam desde 2023 e que, segundo a FETAG-RS, colocam em risco a própria permanência das famílias no campo. Entre os pontos centrais estão:

Preços agrícolas em queda

• O setor leiteiro vive uma das piores crises da década, pressionado por importações mais baratas do Mercosul.
• Produtores de arroz e trigo enfrentam preços abaixo do custo de produção.
• Na fruticultura e vitivinicultura, eventos climáticos extremos e o aumento dos insumos elevaram os custos e reduziram a renda.

Endividamento rural crescente

Relatórios apresentados pela entidade mostram que o endividamento das famílias agricultoras cresceu de forma acelerada nos últimos anos, agravado pela estiagem severa, pela enchente histórica de 2024 e pela queda de preços em 2025.

Seguro rural e Proagro atendem apenas 10% das áreas

A FETAG-RS destaca que a cobertura é insuficiente, e o corte de R$ 445 milhões no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), anunciado em junho pelo Governo Federal, tornou a situação dramática para fruticultores e produtores de uva.

Sem o subsídio federal, agricultores começaram a receber boletos cobrando o valor integral das apólices, o que levou a um recuo massivo na contratação de seguros e colocou em risco a safra em regiões altamente suscetíveis a granizo e ventos fortes.

Vitivinicultura presente

Para o setor vitivinícola, especialmente na Serra Gaúcha, o tema central da mobilização é o restabelecimento da subvenção de 40% ao seguro agrícola, fundamental para proteger parreirais contra perdas climáticas.

A situação ganhou contornos ainda mais dramáticos após o ciclone que, na segunda-feira (9), destruiu cerca de 70 hectares de parreirais em Flores da Cunha e Nova Pádua.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais das duas cidades, Ricardo Pagno, participa da mobilização em Porto Alegre, mas relatou que a maior parte da delegação foi obrigada a permanecer no município para ajudar na reconstrução após o tornado.

Em discurso emocionado, Pagno denunciou a falta de cumprimento do Governo Federal. “Nós não precisaríamos estar aqui se o governo não tivesse dado calote nos agricultores. Quando se combina uma coisa, se cumpre. Temos mais de 70 hectares de parreirais no chão. Muitos agricultores estão hoje lá, não conseguiram pagar os 40% do seguro e hoje perderam o seguro e estão lá com o parreiral no chão sem poder continuar, sem poder ter forças pra poder erguer esse parreiral”, lamentou.

Durante o ato, lideranças da federação defenderam que a mobilização tem o objetivo de pressionar o Executivo Federal a agir com celeridade. “O que o governo fez até agora é importante, mas é insuficiente. É o momento de acordar quem decide e lembrar que sem agricultura familiar o Estado não se sustenta.”.

Outro discurso destacou o papel histórico do movimento. “São os nossos sindicatos que forjam mudanças. A agricultura familiar precisa de políticas públicas à altura dos desafios que enfrentamos”.

Principais reivindicações

• Retorno imediato da subvenção ao seguro rural
• Renegociação ampla das dívidas rurais
• Preços mínimos condizentes com o custo real de produção
• Mais recursos no Plano Safra 2026
• Regulação das importações que impactam leite, arroz e trigo
• Ampliação da cobertura do Proagro e PSR
• Políticas de sucessão rural e regularização fundiária

ATUALIZAÇÃO FETAG-RS

Sobre os produtos agrícolas, a Federação informa que, conforme repassado pelos representantes do governo federal, devem ser publicadas nesta semana as portarias que permitirão avançar nas medidas já anunciadas para o trigo e o arroz, incluindo a efetivação das compras. No leite, porém, não houve qualquer encaminhamento, apesar da crise agravada pelo dumping das importações. “O setor leiteiro não pode esperar seis meses por análises de protocolo. Nesse tempo, muitos produtores já terão quebrado. Precisamos de medidas imediatas de restrição às importações”, afirmou o presidente da FETAG-RS, Carlos Joel da Silva.

A FETAG-RS estabeleceu prazo até este mês de dezembro para que as ações federais avancem e os programas estaduais cheguem efetivamente à ponta. Sem respostas, a entidade organizará uma mobilização em Brasília, no mês de janeiro, para cobrar soluções definitivas para o setor.

 

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