
A vitivinicultura brasileira acaba de ganhar um projeto que pode modificar a forma como o país produz uvas de mesa — especialmente em regiões afetadas pela deriva de herbicidas hormonais. Instalado na última semana na cidade de Marialva (PR), o ensaio conduzido pelos professores Sérgio Ruffo Roberto (UEL) e Dauri Tessmann (UEM), em parceria com o produtor Werner Genta, marca um avanço técnico importante dentro da NAPI Inova Vitis, programa de pesquisa e inovação apoiado pela Fundação Araucária.
A iniciativa busca responder a perguntas ainda sem solução prática no campo: cultivos protegidos podem minimizar danos provocados por herbicidas como 2,4-D e Triclopyr? Podem reduzir o uso de fungicidas e intensificar a sustentabilidade dos vinhedos? Para regiões do Sul e Sudeste, que convivem com um cenário crescente de contaminação por deriva, os resultados podem transformar o futuro da atividade.
De acordo com o professor Sérgio Ruffo Roberto, o projeto nasce da urgência. “Estamos tendo problemas com herbicidas hormonais nas uvas de mesa, assim como acontece no Rio Grande do Sul. A deriva pode marcar a planta por anos”, explica. Uma vez absorvido, o produto é metabolizado lentamente pela videira, comprometendo brotações, produção e até a longevidade do vinhedo.
A solução avaliada é a instalação de estruturas de cultivo protegido com lonas de ráfia reforçada, mais resistentes do que os plásticos usados em estufas tradicionais. Elas funcionam como uma “cobertura-escudo”, sendo possível proteger cachos e folhas da chuva, reduzir o período de molhamento — condição essencial para o surgimento de doenças fúngicas — e impedir que partículas de herbicidas atinjam a planta em períodos críticos.
O material já é adotado com sucesso em países como Chile, Itália e Espanha, e também no Vale do São Francisco, mas não existiam protocolos consolidados para as condições ambientais e produtivas do Sul do Brasil. O ensaio paranaense busca justamente preencher essa lacuna.
O experimento foi instalado em três blocos de uma área comercial de Marialva, região que lidera a produção de uvas de mesa no Paraná. Estão sendo avaliadas as variedades BRS Vitória, BRS Núbia e Benitaka, todas representativas do cinturão vitícola do Norte do Estado.

A área é cercada por lavouras de soja e milho, o que a torna um ponto estratégico para medir o efeito da proteção contra deriva real, não apenas simulações. “É um local representativo e vulnerável, ideal para observarmos se a proteção consegue segurar os danos”, afirma o pesquisador.
O sistema também permitirá avaliar impactos no controle de doenças, já que Marialva possui altas taxas de umidade e chuvas frequentes, condições propícias para míldio, antracnose e outras enfermidades que aumentam custos de produção.
O cultivo protegido pode significar menos fungicidas e maior segurança fitossanitária. “Se a chuva não molha folha nem cacho, a ocorrência de doenças diminui. É como manter a videira sob um guarda-chuva”, explica o professor Sérgio. Isso tende a reduzir aplicações e custos, além de contribuir para práticas mais sustentáveis.
Os primeiros resultados devem surgir a partir do segundo semestre de 2026, já que Marialva produz duas safras por ano — a primeira entre novembro e dezembro e a segunda entre abril e maio. A rapidez desse ciclo permite observar impactos em diferentes estágios fenológicos ao longo de um mesmo ano.
O projeto reúne Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná) e a Associação Norte Paranaense de Estudos em Fruticultura (ANPEF). A expectativa é que os dados ajudem a orientar recomendações técnicas, melhorar decisões de investimento e subsidiar políticas públicas relacionadas ao uso de herbicidas.


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