
A viticultura brasileira atinge um novo patamar de qualificação com o lançamento oficial dos Selos de Qualidade para mudas de videira, uma cooperação estratégica entre a Associação dos Produtores de Sementes e Mudas de Videira do Rio Grande do Sul (Apassul) e a Embrapa Uva e Vinho. A partir da safra 2025, os viveiristas associados à Apassul, que passaram por rigorosas avaliações, terão suas mudas de videira classificadas em três categorias – Premium, Superior e Standard, além do selo de checagem viral.
Este sistema de autorregulação, coordenado pela Apassul e embasado em protocolos técnicos desenvolvidos pela Embrapa Uva e Vinho, e inspirado em modelos internacionais, visa aprimorar a qualidade das mudas disponíveis no mercado, garantindo maior sanidade vegetal e desempenho agronômico para os viticultores.
O programa de qualidade de mudas da Embrapa Uva e Vinho teve início em 2012, buscando solucionar a perda de qualidade do material básico que era transferido aos viveiristas, mas não se refletiam nas mudas. Segundo Daniel Grohs, engenheiro agrônomo da Embrapa Uva e Vinho e um dos coordenadores da iniciativa, o programa visava “melhorar a qualidade das mudas disponibilizadas aos viticultores”. Após uma década de sucesso com a crescente demanda – além de 11 viveiristas acompanhados no Rio Grande do Sul já havia uma lista de espera – a Embrapa, como órgão público, identificou a necessidade de transferir a gestão do programa para uma entidade privada.
“A Embrapa como órgão de pesquisa, não tem esse viés de empresa certificadora de produção de material vegetal”, explica Grohs. Assim, em 2023, a Apassul foi considerada como parceira potencial, assumindo a função de gestora técnica do programa. “Começamos a fazer um trabalho de aproximação entre a Apassul e os viveiristas que já faziam parte do programa de qualidade da Embrapa”, completa.
Sistema de Selos
A partir de 2025, o novo sistema de classificação de mudas de videira passa a ser operacional, com 53 lotes de mudas de 9 viveiros nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina já classificados. Os selos são divididos em duas frentes:
Selo de Qualidade Viral (Etiqueta Amarela): Este selo, fixado no fardo da muda, indica que o matrizeiro (planta-mãe) passou por checagem molecular em laboratório credenciado, atestando a isenção para três principais vírus de impacto econômico no Brasil.
- Selo de Qualidade Morfológica (Premium, Superior, Standard): Esta classificação visual é aplicada na embalagem e avalia o padrão da muda com base em diversos critérios como:
- Qualidade da soldadura: Avaliação da região da enxertia.
- Ocorrência de lesões: Danos por granizo, doenças ou ferimentos mecânicos.
- Fuste da muda: Morfologia geral do tronco.
- Sanidade visual: Checagem de necroses internas (relacionadas a doenças de declínio) e ocorrência de galhas em raízes.
Daniel Grohs explica a diferença entre as categorias. “A muda premium é aquela com a maior uniformidade de apresentação no lote e uma baixíssima quantidade de defeitos. A muda standard é uma muda de qualidade mais inferior em termos de presença de defeitos e apresentação. Já a muda superior também tem uma qualidade de defeitos baixa ou uma apresentação visual menos uniforme no lote.” Ele reforça que lotes classificados como Standard raramente chegam ao mercado, pois os próprios viveiristas, cientes da avaliação, os recolhem para evitar problemas de pós-venda. “A muda premium, ela recebe um significado diferente, porque é quando o viveirista atinge a excelência de produção naquele lote comercializado”, detalha.
Elisângela Sordi, desenvolvedora de Mercado de Mudas da Apassul, explica que a Associação faz a coleta das mudas, e a Embrapa, a curadoria e acompanhamento das avaliações, garantindo a imparcialidade e rigor técnico do processo.
Para o viticultor, a adesão a este programa de selos representa uma segurança e um investimento na longevidade e produtividade do vinhedo. Adquirir mudas classificadas significa minimizar riscos de doenças e falhas no desenvolvimento inicial, resultando em plantas mais vigorosas e resistentes. “Com certeza são mudas de desempenho agronômico muito superior”, afirma Grohs.
Edgar Sinigaglia enfatiza a importância de o produtor de uva e vinho buscar produtos com os Selos de Qualidades Apassul. “A gente espera que cada vez mais o produtor busque as empresas que têm a certificação, que os bancos, por exemplo, quando for financiar para o produtor, a Emater, mesmo quando faz um projeto, que indique esses viveiros certificados em primeiro lugar”, enfatiza.
Embora o programa seja voluntário, a expectativa é que a demanda do mercado impulsione a adesão. “É muito importante o setor reconhecer e cobrar por esse tipo de produto, que aí o viveirista vai ser estimulado a classificar mais lotes”, pontua Grohs.
O movimento de autorregulação do setor viveirista abre caminho para um futuro promissor, onde a qualidade do material vegetal, impulsiona uma viticultura de qualidade, o que aumenta a competitividade dos produtos vitícolas brasileiros no cenário global. A longo prazo, Daniel Grohs vislumbra até a possibilidade de servir como base para uma certificação oficial por parte do Ministério da Agricultura, solidificando o programa e possibilitando uma abrangência em escala nacional.
Abaixo algumas fotos de mudas analisadas pela qualidade morfológica:




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