
O setor vitivinícola do Rio Grande do Sul projeta uma safra de 800 milhões de quilos de uva para o ciclo 2025/26, sustentada por condições climáticas favoráveis, bom vigor das videiras e alta expectativa de sanidade dos vinhedos. A estimativa representa um acréscimo de 50 milhões de quilos em relação à colheita anterior.
Segundo o presidente do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS), Luciano Rebellatto, a tendência é de crescimento contínuo no volume colhido e de adequação do planejamento produtivo para acompanhar a demanda do mercado.
“Em termos de planejamento, acredito que o setor irá se organizar para elaborar maior quantidade de vinhos, especialmente os mais leves, brancos e jovens, os quais se mostram como uma tendência para os novos consumidores”, destacou Rebellatto.
Clima favorece, mas granizo preocupa
A projeção otimista é reforçada por indicadores climáticos positivos. De acordo com o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos, o inverno rigoroso foi determinante para o bom desempenho das videiras.
“Tivemos um inverno muito bom, com o somatório do frio dentro da normalidade climática — cerca de 390 horas com temperaturas abaixo de 7,2°C. Neste ano, foram registradas 395 horas de frio, a partir disso, as videiras respondem em potencial de brotação, com uniformidade e gemas férteis. Estamos agora vivendo o período de florescimento das cultivares”, explicou o pesquisador.
Na primavera, etapa em que ocorre a brotação, as videiras têm apresentado alta fertilidade e número expressivo de cachos. Além disso, a previsão de pouca chuva entre dezembro e janeiro é vista como favorável, já que nessa fase a planta exige menos água e mais estabilidade térmica.
Por outro lado, oscilações acentuadas de temperatura entre o dia e a noite — efeito do fenômeno La Niña — podem influenciar a fertilidade das gemas e o número de bagas por cacho, exigindo atenção constante dos produtores.
Apesar das boas projeções, há preocupação crescente com a possibilidade de novas tempestades de granizo, como a que atingiu o município de Sarandi (RS), nesta segunda-feira (3), destruindo lavouras, residências e vinhedos, levando a prefeitura a decretar situação de emergência.
O episódio reforçou a vulnerabilidade da produção agrícola e reacendeu o debate sobre a ausência de um sistema de proteção climática estruturado no estado. Mesmo com o empenho do setor em viabilizar a instalação do sistema antigranizo na Serra Gaúcha — um projeto aguardado para começar a operar ainda este ano —, as tratativas técnicas e os entraves ambientais impediram a implementação efetiva do equipamento, que visa mitigar os impactos de eventos extremos nas principais regiões produtoras.
Reportagem anterior do Portal A Vindima já havia destacado que, enquanto países como França e Itália contam com planos nacionais de defesa antigranizo, o Brasil ainda enfrenta barreiras legais e orçamentárias para adotar a tecnologia em larga escala. A falta de subsídios, licenciamento ambiental e estrutura de monitoramento meteorológico integrada seguem como desafios para proteger os vinhedos da Serra, Campanha e fronteira oeste do estado.
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