Tempo castiga agricultura na Serra Gaúcha

Após calor antecipado, geada tardia, granizo e chuvas acima da média, agora são as doenças que preocupam os agricultores

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O Sul do país vem enfrentando, nas últimas semanas, chuvas acima da média resultantes da influência do fenômeno El Niño. Consequência disso são os problemas causados principalmente na agricultura. No entanto, não é possível quantificar em porcentagem o quanto foi perdido, destaca o engenheiro agrônomo e assistente técnico da Emater – Regional de Caxias do Sul, Enio Todeschini. “Poderemos afirmar quais foram realmente as perdas na fruticultura depois que a colheita finalizar”, diz. O que já podemos divulgar é que o pêssego da variedade Chimarrita teve perdas de 50%. Outras culturas, como o caqui, a ameixa, a maçã e o kiwi também estão registrando problemas, principalmente o caqui, fruta que deve registrar as maiores perdas. Os citrus, num primeiro momento, não sofrem com o mau tempo.

No caso da uva, Todeschini salienta que ainda é cedo para dar números. “Sabe-se que há perdas, principalmente nas variedades Isabel e Bordô, devido às chuvas, à geada e ao granizo registrados recentemente”, mas não temos como dizer o quanto por cento foi perdido”, explica. O engenheiro agrônomo da Emater diz que há ocorrência de doenças devido à unidade, principalmente o míldio. Mas, ele chama a atenção dos agricultores com relação ao excesso de tratamento que está sendo aplicado. “Percebemos que muitos agricultores estão exagerando nas doses e também aplicando tratamento muito mais do que a planta necessita. Isso fará com que a planta sofra e até morra”.

Além disso, o agricultor gastará mais dinheiro do que estava prevendo”, alerta Todeschini, que destaca que a Emater está fazendo um trabalho de conscientização junto ao produtor rural. Outro problema registrado é a
falta de sol. Isso dificulta a fotossíntese das plantas que não acumulam reservas de nutrientes para poder estimular a produção.
De acordo com Enio Todeschini, a previsão é de que a safra de uva deste ano fique abaixo da média, sendo que é importante destacar que a vindima de 2015 foi uma super safra. “Na safra passada foram colhidos mais de 850 milhões de quilos de uva. Nesse ano, esse número deve chegar, de acordo com estimativas, a 680 mil”, pontua.
O presidente da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Garibaldi, Denis Debiasi, afirma que as perdas na viticultura devem chegar a 50%. “Além de uma produção 15% menor que a passada, nós tivemos essas grandes perdas com a geada, granizo e agora a chuva”, diz. Ele cita que agora as entidades que representam o produtor de uvas estão em busca de um acordo com a indústria com relação ao preço mínimo. “Queremos um mínimo de R$ 0,85 ao quilo e a indústria quer nos repassar R$ 70”, explica.
O agrônomo da Cooperativa Garibaldi, Evandro Bosa, é mais cauteloso, e diz que não é possível citar números. “O que podemos afirmar é que com a geada tivemos perdas de 15%. Agora o míldio está afetando muitas propriedades e a situação é preocupante. Estamos dando todo o suporte para nossos associados a fim de que não exagerem na quantidade de tratamentos”, diz Bosa, que destaca que é notável o desespero por parte de muitos agricultores com a situação.

Saiba mais sobre o Míldio 

É a principal doença fúngica da videira, podendo infectar todas as partes verdes da planta, causando maiores danos quando afeta as flores e os frutos. Nas folhas, na parte superior aparecem manchas amarelas, translúcidas contra a luz do sol com aspecto encharcado, denominadas de ‘mancha de óleo’. Em umidade relativa alta (acima de 95%), surge a esporulação branca do fungo na parte inferior da mancha, a seguir a área afetada fica necrosada, podendo causar a queda da folha. Nas inflorescências infectadas ocorre o escurecimento da ráquis, podendo ainda haver esporulação do fungo, seguido pelo secamento e queda dos botões florais.
Quando o fungo ataca as bagas mais desenvolvidas, estas são infectadas pelos pedicelos e o fungo se desenvolve no interior da baga, tornando-as escuras, duras, com superfícies deprimidas, provocando a queda das mesmas. Este sintoma nesta fase de desenvolvimento é denominado de ‘míldio larvado’ ou ‘grão preto’.
A temperatura ideal para o desenvolvimento do míldio fica entre 18 °C e 25 °C. O fungo necessita de água livre nos tecidos por um período mínimo de duas horas para haver infecção. A presença de água livre, seja proveniente de chuva, de orvalho, ou de gutação, é indispensável para haver a infecção, sendo a umidade relativa do ar acima de 98% necessária para haver a esporulação. A infecção do fungo nas folhas se dá pelos estômatos presentes na face inferior, estômatos e pedicelos durante a floração e inicio da frutificação e pedicelos quando a uva já está mais desenvolvida.

Medidas de controle – O controle preventivo deve começar adotando-se medidas que melhorem a aeração e insolação da copa, objetivando diminuir o tempo de molhamento foliar. Estas medidas incluem: espaçamento adequado; evitar áreas de baixada ou voltados para o sul quando for escolher o local do vinhedo; boa disposição espacial dos ramos sobre o aramado; adubação equilibrada; poda verde (desbrota, desnetamento, desfolha, desponte, etc.). O controle químico deve ser realizado com os fungicidas registrados para a cultura.

Previsão do tempo

As previsões para o período de colheita não são muito animadoras para a agricultura. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que a influência do El Niño ainda vai trazer muita chuva para o Sul do Brasil até janeiro de 2016. O restante da primavera e início do verão deve ser também de chuvas acima da média para este período. As temperaturas máximas serão mais amenas e as mínimas mais altas, tendo assim a inexistência de extremos de calor ou frio.

Leia a matéria completa na edição impressa.

por: Andréia Debon.

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