
A Associação de Viñateros de Mendoza (AVM) divulgou, no início de outubro, um comunicado contundente afirmando que o produtor de uvas argentino enfrenta a pior crise de rentabilidade das últimas décadas. O documento alerta para o risco de colapso econômico e social em uma das regiões vitivinícolas mais tradicionais do mundo e pede medidas urgentes das autoridades nacionais e provinciais.
A entidade, que representa centenas de viticultores da principal província produtora de vinhos da Argentina, descreve uma situação de colapso financeiro no campo, com aumentos expressivos de custos e um mercado da uva desestruturado.
De acordo com o comunicado, a equação econômica do produtor primário “já não fecha”. Durante o ciclo 2024/2025, os custos de produção cresceram de forma insustentável:
- Energia e irrigação: +100%
- Mão de obra da colheita: +115%
- Fretes: +95%
- Impostos e taxas: entre 50% e 250%
Enquanto isso, o preço pago pela uva caiu ou permaneceu abaixo do custo de produção. Segundo a AVM, o Estado “fica com 57,1% do excedente puro” de uma propriedade produtiva, o que torna impossível a sustentabilidade do setor.
“O mercado da uva está destruído. Os valores são impostos de forma unilateral por uma cadeia vitivinícola em que mais de 50% das vinícolas não produzem sua própria uva”, aponta o texto. Os produtores relatam ainda pagamentos com prazos de seis a nove meses, cheques pós-datados e atrasos recorrentes, o que agrava o endividamento rural.
“Sem produtor, não há vinho, não há Mendoza”
A entidade argumenta que o problema ultrapassa a esfera econômica. “Hoje, milhares de famílias estão à beira do desaparecimento. Há vinhedos abandonados, desemprego e jovens deixando o campo por falta de perspectivas”, destaca o comunicado.
A AVM afirma que a crise ameaça o tecido social da província, comprometendo não apenas a produção de uvas, mas também o turismo, a cultura e a economia local.
Os viticultores pedem redução imediata da carga tributária, linhas de crédito de médio e longo prazo, regras de negociação mais equilibradas e apoio técnico efetivo no combate a pragas e doenças como a Lobesia botrana, conhecida como “traça da videira”, que afetou grande parte das lavouras.
A associação também critica a falta de controle estatal e a demora nas respostas do governo provincial, que, segundo os produtores, “chegaram tarde demais”.
Diálogo com o setor
Questionada pelo Portal A Vindima sobre a reação do governo argentino ao comunicado, a Associação de Viñateros de Mendoza informou que há, neste momento, um espaço de diálogo aberto com o governo provincial.
“Desde o governo provincial, há um Banco de Vinhos, onde participam as entidades vitivinícolas. Estamos trabalhando opções”, destacou a entidade, sinalizando que as negociações seguem em andamento, ainda sem medidas concretas anunciadas.
Apesar dessa aproximação, os produtores mantêm a cobrança por ações estruturais e previsíveis que devolvam rentabilidade e segurança ao produtor primário.
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