Educação que cultiva o futuro: Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha e o papel na sucessão familiar na vitivinicultura

Modelo de ensino oferece soluções para desafios da sucessão familiar no campo e fortalece a vitivinicultura na Serra Gaúcha
Foto: Efsaerra

A vitivinicultura brasileira, especialmente na Serra Gaúcha, enfrenta desafios profundos, que vão desde a concorrência global até a preservação das propriedades familiares. Em um setor que depende tanto da continuidade geracional, a formação dos jovens agricultores é essencial para garantir que as tradições e práticas agrícolas se mantenham vivas, ao mesmo tempo em que se adaptam às exigências modernas. Nesse contexto, a Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (EFASERRA) desponta como um modelo que pode ser a chave para um futuro mais sustentável e promissor.

A sucessão familiar é um tema crítico em muitas regiões agrícolas do Brasil. Segundo Alceu Dalle Molle, presidente da Associação da Escola Família Agrícola, 80% dos jovens que concluem o curso técnico da EFASERRA permanecem no campo, cuidando dos negócios da família. Esse dado é um alento para um setor que luta contra o êxodo rural. “Muitos jovens que saem do interior nem sabem o que estão deixando para trás. Na escola, eles aprendem a valorizar a propriedade e, mesmo que saiam, saem cientes do seu potencial. A escola, pela sua característica de uma semana estar na escola e uma semana estar com a família, ela faz com que esse jovem não perca o vínculo com a propriedade e com a família,” afirma Dalle Molle.

A Pedagogia da Alternância, adotada pela escola, integra teoria e prática, permitindo que os estudantes vivam uma semana em regime de internato e outra na propriedade familiar. Esse método, trazido da Europa, não apenas mantém os vínculos com a família, mas também prepara os jovens para os desafios práticos do dia a dia agrícola, seja no manejo das videiras ou na gestão das propriedades.

Roberta aplica o conhecimento na propriedade familiar

A estudante Roberta Luza Molon, de 16 anos, é um exemplo de como a educação pode transformar o futuro da vitivinicultura. Filha de viticultores de Flores da Cunha, Roberta aplica na prática o que aprende na escola, como a introdução da adubação verde para melhorar a saúde das videiras. “O ambiente escolar tem me oportunizado conhecimento. Sinto que agora tenho mais autonomia em aplicar na propriedade algo que aprendi na semana de internato. Me sinto mais confiante para aplicar a prática na unidade de produção familiar”, conta.

Além disso, a EFASERRA busca expandir sua estrutura com laboratórios e uma vinícola experimental, iniciativas que podem servir de modelo para outras regiões do Brasil. “Queremos que os jovens não apenas aprendam a cultivar, mas também a agregar valor aos seus produtos, fortalecendo a economia local e abrindo novas possibilidades para a vitivinicultura, para a agropecuária, agroindústria, agricultura familiar” explica Dalle Molle.

O papel do poder público e o impacto econômico

A cidade de Flores da Cunha, conhecida como a maior produtora de uvas do Brasil, também reconhece a importância de investir na formação dos jovens. Para Jamur Mascarello, secretário de Agricultura, o apoio a programas como as bolsas de estudo da EFASERRA é essencial para perpetuar a agricultura familiar. “Com cerca de 6.000 pessoas envolvidas na agricultura, o ensino técnico possibilita que os jovens combinem conhecimentos tradicionais, transmitidos pelas famílias, com inovações tecnológicas e modernas técnicas de gestão. Isso preserva as tradições locais enquanto potencializa a competitividade e a eficiência no campo,” enfatiza Mascarello.

Além de formar futuros viticultores, a educação técnica oferecida pela escola contribui para a sustentabilidade econômica da região, fortalecendo o agro como pilar da economia local e do turismo.

Uma solução para o Brasil

O modelo da EFASERRA, que alia tradição, tecnologia e integração familiar, é uma solução eficaz que pode ser replicada em outras regiões do Brasil. Em um momento em que a sustentabilidade da agricultura familiar é cada vez mais desafiadora, iniciativas como essa são uma luz de esperança para manter o campo produtivo e dinâmico.

Enquanto o setor vitivinícola enfrenta dificuldades, a Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha não apenas oferece uma educação de qualidade, mas também planta as sementes de um futuro em que o jovem agricultor não apenas permanece no campo, mas se torna um agente de transformação. Para a vitivinicultura brasileira, o caminho para um amanhã mais promissor pode começar na sala de aula.

Foto: Efsaerra

Compartilhe:

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O setor vitivinícola no Nordeste tem potencial para crescer, mas enfrenta desafios estruturais e culturais...
Projeto no Senado propõe reclassificação do vinho e pode impulsionar a vitivinicultura nacional com benefícios tributários e reconhecimento nutricional...
Programa de qualidade da uva no Brasil se torna referência global e será apresentado na Alemanha...