Patrimônio Cultural: Setor discute política de salvaguarda da viticultura brasileira com o Iphan em Brasília

Setor vitivinícola realiza diálogo com o Iphan para reconhecimento cultural da produção da uva e do vinho no Brasil. Discussão sobre patrimônio ocorreu na 11ª Reunião Extraordinária da Câmara Setorial da Vitivinicultura

Durante a 11ª Reunião Extraordinária da Câmara Setorial da Vitivinicultura, Vinhos e Derivados, realizada nesta terça-feira (8) no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representantes do setor debateram com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) os caminhos para que a cadeia produtiva da uva e do vinho seja reconhecida como patrimônio cultural.

O encontro contou com a presença da diretora substituta do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI/Iphan), Marina Lacerda, que apresentou as diretrizes legais da Política de Patrimônio, regida pelo Decreto 3.551/2000 e Resolução Iphan nº 1/2006, destacando a possibilidade de iniciar um inventário nacional de referência cultural para a vitivinicultura.

“É importante pensar essa produção no contexto brasileiro e quais bens se destacam dentro desse universo. O que vale para o Iphan não é apenas o produto final, mas as pessoas que produzem, os contextos e os modos de fazer. Acho que vale a pena pensar o que faz parte de uma cultura identitária de uma comunidade”, explicou Marina.

O inventário serve de registro de práticas, tradições, saberes e rituais que envolvem a produção da uva, do vinho e seus derivados, valorizando os territórios e as comunidades envolvidas — especialmente os pequenos produtores e suas práticas familiares e comunitárias.

A reunião trouxe contribuições valiosas de representantes do setor, como Gilberto Pedrucci, diretor executivo do Sindivinho-RS e produtor em Garibaldi (RS), que defendeu o reconhecimento da vitivinicultura como um modo de vida com identidade cultural própria.

“O espumante brasileiro é nosso produto ícone. Em Garibaldi, criamos uma associação para buscar indicação de procedência, mas o que queremos vai além do terroir. Queremos valorizar nossa história, nossas casarias, a cultura de microchampanharias. Os jovens hoje permanecem no campo com orgulho. Isso é mais que economia, é cultura viva”, declarou Pedrucci.

A fala foi reforçada por Hélio Marchioro, diretor da Fecovinho-RS, que destacou o papel da agricultura familiar e das festas comunitárias no fortalecimento da identidade cultural brasileira.

“A colheita da uva é uma festa. O filó, a colazione , os mutirões são tradições centenárias. O vinho não se faz sozinho. Ele movimenta o turismo, a gastronomia, o enoturismo, a hotelaria. É um sistema cultural vivo. Temos que olhar o Brasil como um todo: hoje são 17 estados produtores de uva”, pontuou.

A diretora do Iphan sinalizou que o próximo passo seria estruturar a proposta de inventário, mobilizando produtores, associações e representantes regionais. Para isso, será necessário aporte orçamentário e definição de escopo.

“Um inventário bem conduzido pode servir não só à política de patrimônio, mas a diversas outras políticas públicas. Precisamos identificar qual bem cultural o setor quer destacar. E para isso, o envolvimento das comunidades é essencial”, completou Marina Lacerda.

A proposta pode ser amadurecida com novas reuniões, articulações institucionais e participação ativa do setor, com foco na valorização da vitivinicultura como parte do mosaico da identidade brasileira.

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