Citricultores projetam safra de qualidade

Mais de 450 mil toneladas de frutas cítricas devem ser colhidas no Rio Grande do Sul na safra 2013

 

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Clemente Valandro está satisfeito com a qualidade dos frutos da safra 2013. (Foto: Danúbia Otobelli)

O produtor de Farroupilha Clemente Valandro ainda não começou a colher a safra de cítricos deste ano, mas já projeta um excelente resultado. Isso se deve em parte à colaboração do tempo e outra aos cuidados com a produção. Na propriedade da família, na localidade de São Miguel, em Farroupilha, a previsão é chegar a 250 toneladas de laranja e mais 30 toneladas de bergamota. Enquanto muitos citricultores no Rio Grande do Sul já iniciaram a colheita, Valandro deve começar entre o final de setembro e o início de outubro. Isso porque seus cultivares são a bergamota Montenegrina e a laranja de Umbigo, duas frutas de colheita tardia. “Mas como o inverno passado não foi tão frio, muitas culturas foram antecipadas e acho que vamos acabar iniciando a colheita no final de agosto”, projeta Valandro.

 

Sua produção deve se somar as mais de 450 mil toneladas de frutas cítricas a serem colhidas no Estado. Dessas 150 mil de bergamota, 290 mil de laranjas e 10 mil de limões. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Antonio Conte, o Rio Grande do Sul é um pequeno produtor em comparação com estados como São Paulo, mas um dos maiores consumidores. “A citricultura gaúcha tem grande expressão social por ser plantada, com fins comerciais, em 340 municípios, que envolvem em torno de 15 mil produtores que cultivam uma área de 28,5 hectares”, diz. Na região da Serra, os principais produtores de citros são os municípios de Veranópolis, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Antônio Prado e Cotiporã. “A laranja mais cultivada é a Valencia e a bergamota a Montenegrina. Em geral, essas frutas são para consumo de mesa, no caso das bergamotas, e para a indústria e mesa nas laranjas”, explica o engenheiro.

 

De acordo com o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar, a colheita, já iniciada em localidades como o Vale do Caí – a maior região produtora, responsável por 42% da produção gaúcha -, apresenta uma excelente qualidade na cor e no sabor, graças às boas condições climáticas ocorridas durante a fase de desenvolvimento, ou seja, durante a primavera e o verão. A ocorrência de chuvas suficientes e bem distribuídas permitiu o crescimento regular das frutas. Isso ocorre também nas condições climáticas do outono/inverno que estão sendo benéficas, com temperaturas noturnas frias e diurnas amenas. “Devido a essas condições climáticas, na fase de desenvolvimento, as frutas estão com excelente coloração e ótimo teor de suco, o que as torna altamente atrativas ao consumidor”, afirma o assistente técnico em Fruticultura, Derli Paulo Bonine.

 

No momento, os citricultores estão colhendo as bergamotas das variedades Caí e Ponkan e as laranjas Céu Precoce e Umbigo Bahia. Mais para o final de agosto deve iniciar a colheita da bergamota Montenegrina e da laranja de Umbigo. Na Serra, a colheita também inicia tardiamente devido ao clima mais frio. Na safra de 2012, a geada provocou uma queda de 50% na citricultura gaúcha, em especial no Vale do Caí.

 

Saiba Mais
– A citricultura no Rio Grande do Sul ocupa uma área de 42.454 hectares, sendo 27.476 hectares de laranjas (65%), 13.197 hectares de bergamota ou tangerina (31%) e 1.781 hectares de limões (4%).
– Os principais produtores são o Alto Uruguai e o Vale do Caí.
– A Serra Gaúcha tem se destacado na produção com variedades tardias, em especial a laranja de Umbigo e a bergamota Montenegrina.
– Municípios que abrangem o Corede Serra possuem 474 hectares de cítricos, sendo 398 hectares de laranja e 85 hectares de bergamota/tangerina.
– A produção na Serra Gaúcha, em 2010, foi de 4.886 tonelada de laranja e 703 toneladas de bergamota/tangerina.
– O cultivo de citros é desenvolvido, basicamente, pela agricultura familiar, em propriedades com área média de 2 hectares.

Fontes: IBGE – Censo Agropecuário/ A Citricultura no Rio Grande do Sul, do engenheiro agrônomo Paulo Lipp/ Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE)

 

Investimento na diversificação

Numa região dominada pelo cultivo da uva, o produtor Clemente Valandro, junto com o irmão Carlos, investiu na diversidade. Há cerca de 15 anos, sua rentabilidade dependia da viticultura, até que ele resolveu mudar a cultura e investir no cultivo de outras frutas – caqui, bergamota e laranja. A troca deu resultados positivos e, hoje, Valandro possui 15 hectares de laranja, 1,5 hectares de bergamota e 2 hectares de caqui. A colheita de citros chega a 280 mil quilos. “Não que os citros sejam um investimento com alto retorno, mas como a uva está em baixa e os jovens estão cada vez menos no campo, foi uma alternativa e um negócio que tem sido muito bom”, explica. Para o mercado, Valandro vende a laranja entre R$ 1,50 a R$ 2 ao quilo, dependendo de sua qualidade. Em média, cada planta produz de 40 a 50 quilos.

 

Atualmente, o produtor possui plantas que variam de oito a quatro anos, ou seja, ainda não atingiram a maturidade completa. Uma laranjeira atinge sua produção máxima com dez anos. “A laranja é uma fruta demorada, tem um ciclo longo de 13 a 14 meses de desenvolvimento. E como as plantas são novas, ano a ano, ela vai produzindo mais”, diz Valandro, que pretende colher 50 toneladas a mais do que a safra passada. Aliás, a colheita deve vir de extrema qualidade. “Estamos com uma previsão de ótima safra para esse ano”, estima o produtor. Isso se deve as condições climáticas mais favoráveis e também aos bons cuidados que Valandro tem feito durante o desenvolvimento das frutas. “Elas têm um bom retorno no mercado, ainda mais por serem tardias, mas também requerem cuidados, pois possuem folheamento verde durante todo o ciclo, o que pode ocasionar doenças. Ainda não fomos atingidos com doenças, com o cancro cítrico, porém estamos preocupados porque lavouras próximas foram tomadas por doenças”, conta.
Nesse ano, além dos cuidados, Valandro também investiu em um sistema de irrigação para as bergamotas. Foram R$ 10 mil, num processo que irriga as plantas quando a temperatura atinge os zero graus. Isso para evitar perdas. Para o próximo ano, o produtor está pensando em colocar o sistema também nos laranjais.

 

Cultivares da Serra

Na Encosta Superior do Nordeste as variedades mais cultivadas são a Laranja de Umbigo e a bergamota Montenegrina, frutas tardias que se adaptam melhor ao clima frio da região.

 

Laranja de Umbigo: É caracterizada por apresentar um ‘umbigo’ no fruto, do lado contrário do pedúnculo. Sua casca é bem amarela com polpa suculenta e sabor ácido adocicado. É rica em vitamina C.
Bastante consumida de forma ‘in natura’, pois possui poucas sementes.

 

Bergamota Montenegrina: A fruta é o resultado de mutação espontânea, descoberta em 1940, no município de Montenegro, por isso seu nome. Tem uma coloração laranja, mas sua casca é densa, com tamanho avantajado e sabor doce. A Montenegrina apresenta um diferencial congênito: é a mais tardia das tangerinas. Ela é colhida a partir de julho, mas em alguns lugares – caso da Serra Gaúcha – a safra vai até setembro-outubro. A bergamota representa 15% da produção cítrica do Rio Grande do Sul.
Atualmente, a variedade está ameaçada de extinção devido à baixa variabilidade genética nas espécimes existentes, que foram obtidas por reprodução vegetativa.

 

Por Danúbia Otobelli
danubia@editoranovociclo.com.br

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