Época de pequenos procedimentos nos vinhedos

Na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, vinhedo experimental que, mantinha boa cobertura de solo
Na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, vinhedo experimental que, mantinha boa cobertura de solo

A safra, definitivamente, já findou. Maio é, então, época de atentar a detalhes que, embora pareçam pequenos, influem, sim, na manutenção de um vinhedo apto a produzir com qualidade.

 

Nesse sentido, trata-se de um período propício para cuidar da estrutura física do parreiral, com a substituição de postes, rabichos e aramados, bem como de seu acesso, por meio da conservação das estradas e bueiros, se for o caso, para facilitar a posterior mecanização do cultivo.

 

Também é o momento em que se recomenda a efetivação de análise do solo, nota o pesquisador em agroclimatologia da Embrapa Uva e Vinho Francisco Mandelli. É importante ter os dados nessa época para verificar se é preciso programar alguma correção mais significativa, para ter resultados já no próximo ciclo, ou se a necessidade é apenas de adubações de manutenção, explica. Mandelli assinala que as cooperativas e a Emater – no caso do Rio Grande do Sul – normalmente tem pessoal apto para orientar sobre como fazer a coleta de material para a análise. “Se o produtor não providenciou a análise nos últimos dois ou três anos, é muito importante fazê-lo, principalmente em áreas de vinhedos em que ele detectou algum problema de desenvolvimento ou vigor das plantas”, adverte o pesquisador.

 

Outros cuidados – Depois da colheita, o viticultor deve também prestar atenção à cobertura do solo, com a conservação da vegetação nativa e/ou o plantio de outras espécies, como ervilhaca, aveia, azevém etc., e à manutenção das folhas do parreiral.

 

O pesquisador Francisco Mandelli, a propósito, observa que cuidar da cobertura verde é especialmente importante nas típicas propriedades vitícolas da Serra Gaúcha, marcadas por certa declividade – o que facilita a erosão, causando a perda de solo e nutrientes. Ele ressalva, contudo, que esse ano a tarefa de manter a cobertura foi dificultada, tendo em vista que nos meses de março e abril a região foi afetada pela escassez de chuva (confira o quadro abaixo). A deficiência hídrica, explica Mandelli, faz com que o solo não tenha a água necessária para promover a germinação da cobertura.

 

Se em relação ao problema não há muito que fazer, os produtores podem tomar providências em relação à outra situação que atrapalha na implantação da cobertura vegetal: a falta de luminosidade em vinhedos com sistema de latada mais fechado. A solução, em parreirais que ainda não perderam as folhas, é despontar nas entrefilas, permitindo uma maior entrada de luz. O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho salienta que é necessário o viticultor ser cuidadoso com a poda, retirando apenas a foliação estritamente necessária. “Quanto mais tempo o vinhedo permanecer com as folhas, melhor para o acúmulo de reservas para o próximo ciclo”, assinala.

 

Em relação à conservação da ‘massa foliar’, Mandelli nota que o cuidado deve ser no sentido de manter as folhas sadias, que depois poderão efetuar a fotossíntese e armazenar reservas nas partes permanentes da planta (no caso, o sistema radicular, tronco e ‘braços’ velhos). Tais reservas são imprescindíveis para o início da brotação no ciclo seguinte. “Plantas com boas reservas vão ter uma brotação melhor e um potencial de fertilidade das gemas maior”, ressalta o pesquisador.

 

Pouca chuva em março e abril
No contexto de seca que castiga o Norte e o Noroeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha também demonstra escassez de água, mas em muito menor nível.

 

O pesquisador Francisco Mandelli informa que em Bento Gonçalves a estação agroclimatológica da Embrapa Uva e Vinho registrou em março e abril (neste mês, até o dia 26), respectivamente, 90,6 e 24,4 milímetros de chuva. Em Flores da Cunha, conforme dados emitidos pela estação mantida pela Prefeitura Municipal, reporta Mandelli, a precipitação foi de 40,6 milímetros em março e de 38,8 em abril (também até o dia 26). Ou seja, em ambos os casos, o volume de chuvas de 1º de março a 26 de abril foi menor do que a ‘normal climatológica’ (a média, estabelecida com base nos dados de 1961 a 1990) apenas de março para Bento Gonçalves, que é de 128 milímetros – e de 114 em abril.

 

O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho observa que a deficiência hídrica pode afetar o cultivo da uva. De acordo com ele, como a falta de água se dá na parte superficial do solo (em seus primeiros dez centímetros, onde não há umidade), o sistema radicular de vinhedos estabelecidos não é afetado, porque é mais profundo. Vinhedos novos em solos superficiais, contudo, podem sofrer com a falta de água, que retarda o desenvolvimento das plantas.

 

Precipitações.xls

 

Por Giovani Capra
Foto: Rafaela Santos da Silva / Divulgação

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