Otimizando um trabalho qualificado com a pré-poda

 Detalhe de vinhedo com exemplos de amarração (indicados por setas) de ramos de uma planta.
Detalhe de vinhedo com exemplos de amarração (indicados por setas) de ramos de uma planta.

Uma eventual situação: fulano de tal, agricultor na Serra Gaúcha (provavelmente, então, um pequeno produtor rural), cuida das uvas basicamente com o seu próprio trabalho e o da esposa e filhos. A mão-de-obra regular, portanto, é limitada. Aliás, a mão-de-obra qualificada é, habitualmente, escassa.
Agosto, comumente, é o período em que se faz a poda. Mas são apenas 31 dias, e, eventualmente, o próprio viticultor – que prefere ele mesmo efetuar a prática cultural, pelo nível de conhecimento que ela exige – não conseguirá dar conta da tarefa… O que fazer? Numa palavra só: pré-poda.

 

 

Sendo ideal fazê-la após a queda das folhas (que, este ano, está um tanto atrasada, pela não-ocorrência de geadas – pelo menos até o dia 3 de junho, na Serra Gaúcha, genericamente), ela oferece como vantagem, a quem tem dificuldades em relação à mão-de-obra, a possibilidade de “empregar podadores de reconhecida capacidade”, anota o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Francisco Mandelli. Para a ‘poda definitiva’, se feita em agosto, então, são 31 dias de que se dispõe; aplicando a pré-poda (também chamada de poda de limpeza), o período para a efetivação de uma prática adequada acaba por se multiplicar praticamente por três, salienta Mandelli. É, reiterando, uma forma de otimização do processo produtivo sobretudo para quem tem pouca disponibilidade de mão-de-obra especializada – ou seja, a rigor, se há equipe para tanto (o que costuma não ser a regra, pelo menos na mais tradicional região produtora do país, a Serra Gaúcha), a poda pode se concentrar em agosto mesmo. Há que se mencionar, ainda, que ela é mais indicada para produtores de Vitis vinifera que empregam poda mista (com varas e esporões).
A pré-poda consiste, explica o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, na eliminação dos ramos (com dois anos de idade, geralmente) que produziram na safra anterior e na seleção e devida amarração dos sarmentos que produzirão na futura safra. Desse modo, os ramos escolhidos já ficam afixados na posição desejada, sendo submetidos, junto dos que não foram descartados, à poda definitiva no devido tempo. A quantidade de ramos a serem selecionados vai depender do vigor de cada videira.
Para a seleção, de acordo com Mandelli, um critério importante é a manutenção dos ramos sadios e que tenham um diâmetro aproximado ao de uma caneta (um centímetro, mais ou menos), ou seja, galhos muito grossos ou muito finos devem ser desprezados. Nesse sentido, é importante que se faça a proteção das partes cortadas com a aplicação de pasta à base de fungicida ou agente de controle biológico, como trichoderma.

 

Poda na hora certa – Francisco Mandelli reitera que a pré-poda é uma preparação: a poda efetiva se dá apenas por volta de agosto. É que, efetuando o aparamento definitivo dos ramos com muita antecedência (no início do inverno, por exemplo), favorece-se a antecipação da brotação, aumentando os riscos de perdas por conta de geadas tardias. É bastante prudente levar isso em conta este ano, considerando que a tendência é de um mês de agosto mais quente do que a média – conforme boletim climatológico de 20 de maio –, portanto, com chances maiores de uma brotação antecipada.

 

Por Giovani Capra
Foto: Giovani Capra / arte: Márcio de Oliveira

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