
A busca por produtos sem álcool chegou com força ao universo dos vinhos. Segundo a consultoria inglesa IWSR, especializada no mercado de bebidas, os vinhos com baixo ou nenhum teor alcoólico apresentam uma taxa de crescimento anual de 4% nos dez principais mercados do mundo — incluindo o Brasil. Quando se trata de produtos totalmente desalcoolizados, a taxa sobe para 7% ao ano.
A expansão desse segmento atende à demanda de novos perfis de consumidores, que por motivos religiosos, de saúde ou estilo de vida, buscam alternativas ao vinho tradicional. Além disso, as mudanças climáticas vêm contribuindo para a elevação do teor alcoólico natural das uvas, o que impulsiona o interesse por tecnologias que reduzam esse índice sem comprometer a qualidade do produto.
“Obter produtos com baixo ou reduzido teor alcoólico pode significar a ampliação do mercado para novos consumidores”, destaca a pesquisa. Técnicas que possibilitam a redução parcial de até 20% do álcool surgem como alternativas para equilibrar o impacto das altas temperaturas na concentração de açúcares das uvas.
Diferença entre vinho, suco e vinho desalcoolizado
A principal diferença entre suco de uva, vinho e vinho desalcoolizado está na relação entre açúcar e álcool. O suco de uva apresenta alto percentual de açúcar; o vinho tradicional tem cerca de 13% de álcool, oriundo da fermentação; já o vinho desalcoolizado resulta em uma bebida com baixo ou nenhum teor de açúcar e álcool.
Principais técnicas de desalcoolização
Entre os métodos mais utilizados para separação do álcool estão:
- Evaporação em vácuo: realizada a até 40ºC, preserva os compostos aromáticos e o sabor do vinho. A pressão atmosférica reduzida na câmara de vácuo diminui o ponto de ebulição do álcool.
- Osmose inversa: técnica de filtração com membranas que separa seletivamente o álcool, mantendo as características sensoriais da bebida.
- Spinning Cones Column (SCC): tecnologia com colunas de cones rotativos que separa o álcool e os componentes voláteis, permitindo posterior reintegração ao produto final. Utilizada desde os anos 1960, garante menor perda de aromas e sabores.
Embora essas técnicas possam reduzir a complexidade sensorial, os ganhos mercadológicos compensam: produtos desalcoolizados passam a atingir públicos que normalmente não consomem vinhos.
VinØh: inovação nacional em Bento Gonçalves

A empresa AVJ-LUC Vinhos Especial, sediada em Bento Gonçalves (RS), lançou comercialmente em 2021 a marca VinØh, dedicada ao segmento de vinhos desalcoolizados. Os produtos, classificados legalmente como Fermentado de Uva Desalcoolizado, têm até 0,5% de álcool por volume, como determina a legislação brasileira.
“Eu queria fazer algo diferente e estava num momento sem poder consumir bebidas alcoólicas, mas sempre gostei de vinhos”, explica Vlademir Grechi, diretor da AVJ-LUC. A partir de experiências com vinhos sem álcool da França, Chile, Espanha e Estados Unidos, ele investiu em pesquisas e desenvolvimento de tecnologia nacional para desalcoolização em escala industrial.
O objetivo da marca é atender públicos com restrição ao álcool — gestantes, lactantes, jovens e grupos religiosos. Em 2024, a VinØh comercializou 15 mil garrafas. A meta para 2025 é triplicar esse número, inclusive fornecendo o vinho base para outras marcas. A identidade visual foi criada pela agência UNT.
Crescimento global do setor
O Catad’Or World Wine Awards, principal concurso internacional de vinhos da América Latina, incluirá pela primeira vez em 2025 a categoria de vinhos desalcoolizados. A competição é realizada no Chile, quarto maior exportador de vinhos do mundo.
Na Espanha, o grupo Miguel Torres está investindo €6 milhões em uma planta exclusiva para vinhos de baixo teor alcoólico. A Freixenet, por sua vez, já lançou espumantes branco e rosé desalcoolizados.
Também no país, o consórcio Ubavida reúne universidades, empresas e instituições de fomento para pesquisar formas de produzir uvas com menor teor de açúcar, reduzindo naturalmente o teor alcoólico na fermentação.
A tendência é clara: mais vinhos para mais pessoas. E o futuro passa, inevitavelmente, por taças com menos — ou nenhum — álcool.
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