A tranquilidade do interior não é mais a mesma

Ocorrências de furtos e roubos crescem em áreas rurais e com elas a necessidade de ampliar os cuidados em localidades onde a criminalidade não chegava

Patrulhas pelo interior tentam reduzir crimes em propriedades rurais. Foto: Alina Souza/Palácio Piratini
Patrulhas pelo interior tentam reduzir crimes em propriedades rurais.
Foto: Alina Souza/Palácio Piratini

Escassez de policiamento nas cidades – e também no interior, a facilidade de acesso às residências, o aumento da criminalidade e da pobreza. Essas são algumas das razões apontadas para o crescimento de ocorrências nas zonas rurais de cidades gaúchas, inclusive em períodos de colheitas, quando aumenta a movimentação de veículos e pessoas pelas estradas vicinais como, por exemplo, a safra da uva na Serra.

Na Serra Gaúcha, nas últimas semanas, um dos registros que têm chamado a atenção é o roubo a tratores e de automóveis. Em São Marcos, por exemplo, do início do ano até o fechamento desta edição (em 12 de fevereiro) já tinham sido furtados de propriedades do interior do município oito tratores.

Em Flores da Cunha, no mês de janeiro, foram três. Em um dos casos, os ladrões levaram o trator durante a madrugada. Segundo a proprietária, que prefere não se identificar, um vizinho ouviu latidos de cachorros por volta das 3h da manhã. A família não ouviu nada. Os ladrões derrubaram os portões da propriedade e levaram o veículo, que ainda não tinha sido encontrado até o fechamento desta edição. A polícia civil de Flores da Cunha acredita tratar-se de uma mesma quadrilha, pois os casos registrados nas delegacias é semelhante. Arrombamentos, assaltos a residências e a capelas também assustam os moradores do interior.
Embora sem uma solução simples, algumas mudanças de hábitos podem inibir a ação de assaltantes como manter sempre portas e portões fechados e trancados. A comunicação com os vizinhos também é uma forma de diminuir as chances desses inconvenientes que causam muitos prejuízos e preocupações.
Para o capitão Daniel Tonatto, comandante da 1ª Companhia de Policiamento do 36º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Farroupilha, medidas de segurança preventivas podem auxiliar na minimização do grau de vulnerabilidade das pessoas a tornarem-se vítimas em potencial da violência – inclusive no campo. “Utilizar medidas de segurança pode contribuir para a preservação da vida pessoal, dos familiares e do patrimônio. Estar seguro requer mudança comportamental e interação com o ambiente e com as pessoas onde se convive”, sustenta Tonatto.

Para isso, uma das dicas mais importantes é manter uma comunicação com os vizinhos, avisando quando não há ninguém em casa, seja por trabalho na lavoura ou viagens. A Brigada Militar criou a Patrulha do Interior, realizada pela Brigada local de cada cidade e também por patrulhas do Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar (POE).
Para a titular da Delegacia de Polícia de Flores da Cunha, delegada Aline Martinelli, o aumento nos casos registrados no interior é um reflexo do crescimento na criminalidade também nas áreas urbanas. O comportamento das famílias pode ajudar a evitar muitos dos casos de roubos, arrombamentos e até abigeatos – quando acontece o furto de animais da propriedade. “O aumento da criminalidade faz com ela migre para lugares onde antes não chegava, como no interior. As residências rurais ainda carecem de atenção neste sentido, é necessária uma mudança de costumes, como, por exemplo, sempre trancar portas e manter portões fechados. São cuidados simples mas que podem evitar a ação de assaltantes, porém que nem todo mundo dá a devida atenção”, acrescenta Aline.

Cuidado nunca é demais

– Antes de contratar funcionários, exija os documentos de identificação, bem como a Certidão de Antecedentes Criminais. Este documento pode ser solicitado na Polícia Civil e não tem custo.

Dificulte o acesso a sua propriedade colocando cadeados nas porteiras.

Coloque os cães de guarda próximos ao local onde os equipamentos são guardados, essa medida ajuda a inibir a aproximação de estranhos.

Certifique-se que a residência ficou fechada enquanto estiver trabalhando.

Desconfie de pessoas estranhas que vêm solicitar informações, elas podem ter o intuito de colher informações ou verificar bens existentes para possíveis roubos e/ou furtos.

Ao visualizar veículos estranhos, lembre-se de olhar para o condutor e também para a placa. Muitas vezes é mais importante anotar a placa do veículo do que saber quem estava conduzindo.

Jamais adquira produtos sem nota fiscal ou com valor abaixo do mercado, pois eles podem ser fruto de outros furtos.

– Crie algum sinal identificador nos objetos de uso da propriedade, isso pode ajudar a identificar o proprietário caso a polícia localize algum objeto após o roubo.

– Mantenha em local seguro as Notas Fiscais de série de seus bens (TV, Som, Vídeo, relógios, equipamentos, tratores) e, em caso de furto, transmita esses dados às autoridades, pois essa providência aumenta a chance de recuperação.

– Oriente familiares e empregados para que não comentem com estranhos sobre os bens que a família possui e seus hábitos.

Em caso de assalto, não tente reagir. Procure manter a calma diante de uma arma, mesmo que isso pareça difícil.

– Em qualquer movimentação estranha contate as polícias. A Brigada Militar atende pelo 190. Tente observar as características dos veículos ou pessoas e o caminho por elas tomado.

Fontes: Polícia Civil e Brigada Militar (BM).

Falta de segurança gera debate

A Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul vem promovendo audiências públicas em diversas cidades gaúchas tendo como motivo a grande incidência de roubos nas propriedades rurais. Entre as principais ocorrências estão arrombamentos em residências e abigeato. De acordo com o proponente do debate, deputado estadual Zé Nunes (PT), a população tem apontado a segurança como um dos principais problemas, e a solução passa por investimentos, principalmente, em estrutura, o que, segundo ele, não vem ocorrendo. Na Serra Gaúcha, a cidade de Ipê já teve uma audiência.
De janeiro a dezembro de 2015, segundo estatísticas divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, o Rio Grande do Sul registrou mais 158 mil furtos e 79 mil roubos.

 

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