Agricultores sofrem com a proliferação do mosquito borrachudo

Onze cidades da Serra Gaúcha e do Vale do Caí unificaram aplicações de BTI em função da alta incidência do mosquito

 

Em Nova Pádua (RS), o agricultor Nestor Tonello realiza aplicações do BTI, além de manter limpo o arroio que passa pela sua propriedade, no Travessão Divisa.
Em Nova Pádua (RS), o agricultor Nestor Tonello realiza aplicações do BTI, além de manter limpo o arroio que passa pela sua propriedade, no Travessão Divisa.

Ele é inconveniente e seu pequeno tamanho não condiz com o incomodo de uma, ou várias, picadas. Neste verão, a combinação de chuvas contínuas, umidade e um inverno com temperaturas acima da média, contribuiu para a proliferação de um inseto pouco querido pelas pessoas – o mosquito borrachudo. A alta incidência do mosquito fez com que secretarias da Saúde e da Agricultura de diversas cidades da Serra Gaúcha e do Vale do Caí criassem um calendário em comum para inibir a proliferação do borrachudo. Aplicações de BTI – um bioinseticida desenvolvido a partir de uma bactéria específica para controlar insetos e que não prejudica a saúde das pessoas, dos animais e das plantas, terá aplicações conjuntas, ajudando a evitar o deslocamento do borrachudo entre um município e outro. Fazem parte da ação as cidades de Farroupilha, Nova Roma do Sul, Pinto Bandeira, Flores da Cunha, Caxias do Sul, Carlos Barbosa, Bento Gonçalves, Vale Real, Alto Feliz, São Vendelino e Nova Pádua.
A incidência dos borrachudos desde que as temperaturas começaram a aumentar chamou a atenção não somente de quem mora em áreas mais arborizadas, próximo a arroios ou em áreas rurais, o borrachudo está por toda a parte. “O frio é um dos métodos de controle do mosquito e como o último inverno foi fraco, não houve uma queda populacional expressiva como acontecia em outros anos. Além disso, a chuva acima da média favorece a reprodução desses insetos. Isso tudo contribuiu para uma grande proliferação do borrachudo neste ano”, explica o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Flores da Cunha, Marcelo Masiá.
Além disso, diferente do mosquito Aedes Aegypti – vetor de doenças como dengue, chikungunya e zika vírus, e que precisa de água parada para se reproduzir (leia mais abaixo), o mosquito borrachudo se procria em água corrente. “Durante o inverno a larva do borrachudo demora de 30 a 35 dias para se desenvolver, isso em função da temperatura da água. Já no verão, com águas mais quentes, uma larva pode crescer em até 15 dias, por isso neste período o borrachudo se propaga muito mais”, descreve o secretário da Agricultura e Meio Ambiente de Nova Pádua, Rafael Martello. No município, uma aplicação de BTI já foi realizada em locais de água corrente, contando com os 180 produtores voluntários como Nestor Tonello, 56 anos, morador do Travessão Divisa.
Tonello entende bem e valoriza ações que controlam o mosquito, já que o incomodo trazido por ele é grande. “Procuro realizar a aplicação no dia em que a prefeitura faz a entrega e sempre bem feito. É uma ação que diminui o aparecimento dos borrachudos, já que eles incomodam todo mundo. Me preocupo muito com essa questão e mantenho sempre o rio livre de galhos e objetos que sirvam de morada aos mosquitos”, conta o produtor, que faz a aplicação em 13 pontos do arroio que atravessa a comunidade paduense.

Os sintomas

– Dengue: normalmente, a primeira manifestação da dengue é a febre alta (39° a 40°C), de início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. No Brasil, foi identificada pela primeira vez em 1986. Estima-se que 50 milhões de infecções por dengue ocorram anualmente no mundo.
– Febre Chikungunya: Os principais sintomas são febre alta de início rápido, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Não é possível ter chikungunya mais de uma vez. Depois de infectada, a pessoa fica imune pelo resto da vida. No Brasil, a circulação do vírus foi identificada pela primeira vez em 2014.
– Zica Vírus: Cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus Zika não desenvolvem manifestações clínicas. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Outros sintomas menos frequentes são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. No geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. O vírus foi identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015. Fonte: Ministério da Saúde.

Alerta vermelho também para o Aedes Aegypti

Se as principais notícias relacionadas aos perigos transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti vêm das regiões como o Nordeste e Sudeste do país, o cuidado em outras regiões também deve ser redobrado. Segundo um levantamento da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), divulgado na primeira semana de fevereiro, cinco municípios da Serra Gaúcha estão infestados pelo mosquito transmissor da dengue, febre Chikungunya e do zika vírus. Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Garibaldi e Veranópolis registraram a presença de focos do Aedes fora das armadilhas. A notícia acendeu o alerta de todas as cidades da Serra, que estão reforçando campanhas e ações para o combate ao mosquito. São ações de mutirão de agentes comunitários, além de dias destinados ao conhecido ‘bota fora’, uma tentativa de eliminar possíveis criadouros do mosquito da dengue.
Essa força-tarefa é uma orientação do Ministério da Saúde para todos os municípios brasileiros, determinando que os agentes de saúde, além de orientar a comunidade, realizem a eliminação de qualquer depósito de água nas moradias ou estabelecimentos durante a visita. Como não existem vacinas ou medicamentos que impeçam a contaminação do Aedes, é necessário diminuir a quantidade de mosquitos que circulam nos ambientes. Para isso, é fundamental eliminar os criadouros do mosquito, que coloca seus ovos em recipientes com água parada. O cuidado para evitar a sua proliferação deve ser feito por todos, inclusive nas propriedades do interior. Confira no quadro abaixo algumas orientações:

– Não deixe acumular água em latas, embalagens, copos plásticos, tampinhas de refrigerantes, pneus velhos, vasinhos de plantas, jarros de flores, garrafas, caixas d´água, tambores, latões, cisternas, sacos plásticos e lixeiras, entre outros.
– Vire garrafas com a boca para baixo e, caso o quintal seja propenso à formação de poças, realize a drenagem do terreno. Também é necessário lavar a vasilha de água do bicho de estimação regularmente e manter fechadas tampas de caixas d’água e cisternas.
– Coloque areia ou terra nos pratos dos vasos de plantas. A areia conserva a umidade e ao mesmo tempo evita que o prato se torne um criadouro de mosquitos.
– Coloque desinfetante semanalmente nos ralos quando estes são rasos e conservam água estagnada em seu interior. Ralos não utilizados com frequência semanal devem ser vedados (um saco plástico esticado e fixado na parte interna do ralo é suficiente).
– Limpe as calhas e canos e confira regularmente para evitar que um leve entupimento crie reservatórios ideais para o desenvolvimento do mosquito.

Ações simultâneas de combate

Realizar aplicações do BTI em forma de um calendário em comum é uma das ações tomadas por esses 11 munícipios com o propósito de evitar o deslocamento do borrachudo entre um município e outro, além de tornar mais eficiente a ação do bioinseticida, já que são cidades próximas e que dividem os mesmos recursos de águas. A previsão é que a primeira aplicação do ano seja realizada ainda em fevereiro, mas o calendário depende da incidência de chuvas, que atrapalham e anulam a ação do BTI. Além disso, o intervalo entre uma aplicação e outra deve ser reduzido. A ação é desenvolvida por secretarias da Agricultura e da Saúde desses municípios.
Além das aplicações do bioinseticida, a população também deve ajudar para que no próximo verão o mosquito borrachudo não seja novamente um personagem marcante da estação. Nas propriedades rurais, onde o mosquito é mais encontrado, a orientação é que rios e arroios sejam mantidos sempre limpos, assim como preservar as matas ciliares. “Isso faz com que aves e peixes se alimentem da larva do borrachudo. É um ciclo importante para evitar a proliferação do mosquito, além de tornar o efeito do BTI mais eficiente”, destaca o agrônomo Marcelo Masiá. O BTI não é tóxico, é um inseticida biológico composto de uma bactéria que serve como alimento para a larva do mosquito. Uma vez ingerida, causa danos ao intestino e a morte da larva em menos de 24 horas, por isso não é maléfico ao consumo da água.

Por: Camila Baggio
camila@avindima.com.br

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