Doenças respiratórias e o uso de agrotóxicos

Produto que é usado na forma de pulverização pode causar irritação da mucosa do nariz, desenvolvimento de asma e insuficiência ventilatória

Uso de EPIs é fundamental na hora de aplicar defensivos agrícolas.
Uso de EPIs é fundamental na hora de aplicar defensivos agrícolas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As doenças respiratórias são um grave problema. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil são registrados cerca de 18 milhões de asmáticos, oito mil novos casos de tuberculose e 200 mil vítimas de câncer de pulmão a cada ano. No Rio Grande do Sul, especialmente na Encosta Superior do

Nordeste, há o predomínio das doenças respiratórias alérgicas, como a asma e a rinite, além daquelas
relacionadas ao consumo de cigarros (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC). Conforme a pneumologista, Lilian Pasin Jacobi, de Garibaldi (RS), fatores como o clima, a variação de temperatura e contato com inalantes do tipo pó, poeira, ácaros, fumaça e produtos químicos fortes podem desencadear ou contribuir para o agravamento dos quadros alérgicos.

A especialista destaca que o uso de agrotóxicos também está diretamente relacionado ao surgimento
de doenças respiratórias. Para ela, todo produto agrotóxico que é administrado na forma de pulverização, e é passível de ser inalado, pode causar doenças respiratórias, que vão desde a simples irritação da mucosa do nariz até o desenvolvimento de asma e insuficiência ventilatória (dificuldade extrema para respirar). Nesse caso, Lilian sugere que sempre que o agricultor perceber qualquer alteração respiratória
deve analisar o tipo de agrotóxico utilizado, a frequência de uso, a duração da exposição, o equipamento utilizado para a pulverização e se usa medidas de prevenção.

Faltam registros
Existem poucos dados referentes à quantidade de agricultores afetados pelo uso de agroquímicos no Brasil. Lilian conta que as informações em saúde encontram-se espalhadas em diversas bases de dados, de forma fragmentada e desarticulada. “Os dados oficiais brasileiros sobre isso não retratam a gravidade de nossa realidade. Existem poucas pesquisas sobre agroquímicos e doenças relacionadas, pois os dados são de difícil aquisição em decorrência da dificuldade de se quantificar nível de exposição, tempo e sintomas relacionados. O que temos são estimativas e dados em pequenas populações”, expõe a profissional.

Segundo a médica, um estudo realizado em 1996 é considerado uma das únicas fontes de referência
sobre o assunto. Na época, o projeto entrevistou 1379 agricultores de diferentes municípios da Serra Gaúcha, com a intenção de avaliar a frequência e as formas de exposição química aos agrotóxicos.
Participaram indivíduos com 15 anos de idade ou mais, que ficavam expostos por, no mínimo, 15 horas semanais à atividade agrícola. “Verificou-se que a prevalência de sintomas de asma foi de 12% e 22% foram considerados como portadores de doença respiratória crônica. Apesar das limitações de causalidade, os resultados evidenciaram que o trabalho agrícola, envolvendo agrotóxicos, está associado com a elevação da prevalência de sintomas respiratórios, especialmente quando a exposição é superior a
dois dias por mês”, sustenta.

Sintomas
Conforme a pneumologista Lilian Pasin Jacobi, em geral, os agrotóxicos são absorvidos pelo corpo humano pelas vias respiratória e dérmica e, em menor quantidade, também pela via oral. Sendo assim, é comum que o indivíduo apresente sintomas mesmo que o período de exposição aos defensivos tenha sido curto ou, inclusive, já na primeira aplicação. Nesse caso, observam-se os chamados efeitos agudos, caracterizados por náusea, cefaleia, tontura, vômito, contrações musculares, desorientação, dificuldade respiratória, paralisia reversíveis, ação neurológica retardada, coma e morte.

Ao contrário, os chamados efeitos crônicos, que estão relacionados com exposições por longos períodos e em baixas concentrações, são de reconhecimento clínico bem mais difícil, principalmente quando há exposição a múltiplos contaminantes, situação bastante comum no trabalho agrícola. “Entre os inúmeros efeitos crônicos sobre a saúde humana são descritas alterações imunológicas, genéticas, malformações congênitas, câncer, efeitos deletérios sobre os sistemas nervoso, hematopoético, respiratório, cardiovascular, geniturinário, trato gastrintestinal, hepático, reprodutivo, endócrino, pele e olhos, além de
reações alérgicas a estas drogas, alterações comportamentais, entre outros”, alerta.

No que diz respeito ao cultivo de uvas, onde o agrotóxico mais conhecido utilizado é o Sulfato de Cobre, Lilian acrescenta que as principais alterações visíveis são: irritação nas vias respiratórias, causando tosse, dor de garganta e dificuldade para respirar. “Dependendo da quantidade inalada, pode até causar ulceração e perfuração das vias respiratórias (é bastante agressivo). Quando aquecido, este composto pode resultar em vapores de cobre, o qual ocasionam sintomas similares aos de um resfriado comum, incluindo calafrios e dor de cabeça”, observa.

Como evitar a intoxicação

A conscientização do agricultor sobre a utilização correta do agrotóxico se faz necessária em todos os aspectos, uma vez que esses produtos são nocivos tanto à saúde do trabalhador quanto ao meio ambiente. A pneumologista destaca para evitar a intoxicação por agrotóxicos e, consequentemente, o desenvolvimento de doenças respiratórias agudas e/ou crônicas, é necessário evitar o contato com o produto químico. “É fundamental utilizar luvas e roupas adequadas para que o produto não entre em contato com a pele e cause lesões (alergias, urticária, dermatites), além de usar proteção para os olhos e máscara para não inalar a substância”.

Mirian Spuldaro
mirian@avindima.com.br

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