As exportações de suco e vinho do Rio Grande do Sul, principal estado produtor do setor vitivinícola brasileiro, têm mostrado flutuações significativas nos últimos seis anos. Com base nos dados do Comex Stat, compilados pelo Observatório Vitivinícola, a trajetória econômica do setor reflete os impactos de fatores globais como a pandemia de COVID-19, mudanças no perfil de consumo e oscilações nos mercados internacionais.
O período analisado começou com exportações de 13,9 milhões de dólares em 2019, divididas entre 5,5 milhões em sucos e 7,5 milhões em vinhos. O Paraguai foi o principal comprador, seguido por Japão, Estados Unidos, Venezuela e China. Essa estabilidade inicial foi abalada pela pandemia de COVID-19 em 2020, quando o valor total das exportações caiu para 10,7 milhões de dólares, marcando uma queda de 23% em relação ao ano anterior. Nesse período, o mercado de sucos sofreu uma redução acentuada de 60%, enquanto os vinhos tiveram um leve crescimento, alcançando 7,6 milhões de dólares.
A partir de 2021, o setor experimentou um ciclo de recuperação e crescimento. O valor das exportações chegou a 18,1 milhões de dólares, com o suco recuperando seus índices anteriores à pandemia e o vinho crescendo significativamente, marcando 11,5 milhões de dólares, o maior valor no período analisado. O crescimento continuou em 2022, quando as exportações atingiram o pico de 22 milhões de dólares, sendo 8,8 milhões em sucos e 12 milhões em vinhos.
No entanto, os dois últimos anos indicaram uma retração. Em 2023, o total exportado caiu para 21 milhões de dólares, e pela primeira vez o suco superou o vinho em participação, atingindo 11 milhões de dólares, enquanto os vinhos caíram para 9,1 milhões de dólares. Essa tendência foi reforçada em 2024, com exportações totais de 16 milhões de dólares, retornando aos níveis de 2019.
Mudanças no Perfil de Consumo e Mercados
Os dados revelam mudanças significativas nos principais destinos das exportações gaúchas. Em 2019, o Paraguai liderava a lista de compradores, seguido por mercados maduros como Japão e Estados Unidos. A partir de 2023, o Japão assumiu a liderança, consolidando-se como o maior consumidor de sucos e vinhos do Rio Grande do Sul. Essa mudança reflete a crescente demanda por produtos brasileiros em mercados asiáticos e destaca a necessidade de estratégias específicas para fortalecer essa relação comercial.
Outro destaque é o crescimento do mercado chinês, que permaneceu entre os cinco maiores compradores durante todo o período, e a entrada de países como Uruguai e Chile, revelando um fortalecimento do comércio regional.
Análise por Produto: Suco e Vinho
Suco de Uva: Crescimento e Oscilações
- O segmento de sucos demonstrou maior volatilidade, com quedas significativas durante a pandemia (2020), mas recuperação consistente em 2021 e 2022, alcançando 11 milhões de dólares em 2023, o maior valor do período.
- Em 2024, as exportações de suco recuaram para 7,2 milhões de dólares, refletindo um possível enfraquecimento da demanda internacional ou redução de competitividade.
Vinhos: Constância e Declínio Recente
- O segmento de vinhos apresentou crescimento constante até 2022, atingindo o recorde de 12 milhões de dólares.
- Entretanto, os dois últimos anos mostraram uma retração, com as exportações caindo para 9,1 milhões em 2023 e 7,5 milhões em 2024, valores semelhantes aos registrados em 2019.
Desafios e Oportunidades
A análise do período destaca desafios importantes para o setor:
- Competitividade Internacional: A retração em 2023 e 2024 sugere que o setor enfrenta maior concorrência em mercados globais.
- Diversificação de Mercados: A concentração em poucos mercados, como Paraguai e Japão, exige esforços para ampliar o alcance geográfico.
- Inovação e Sustentabilidade: Investir em inovação, especialmente em produtos diferenciados como sucos orgânicos e vinhos premium, pode ajudar a conquistar novos nichos.
Por outro lado, a crescente presença em mercados asiáticos, como Japão e China, é um indicador positivo e aponta oportunidades para fortalecer a marca Brasil no exterior.
O desempenho das exportações de suco e vinho do Rio Grande do Sul entre 2019 e 2024 ilustra um setor resiliente, que enfrentou os desafios da pandemia e alcançou recordes históricos em 2022. No entanto, a recente retração evidencia a necessidade de estratégias voltadas para diversificação, inovação e competitividade. O futuro do vinho e do suco brasileiro está, mais do que nunca, atrelado à capacidade de adaptação e reinvenção.