
Nos campos da Serra Gaúcha, onde os parreirais desenham a paisagem e os ventos sussurram histórias de trabalho árduo, a trajetória de Valmir Susin, atual presidente do Sindicato Rural Patronal de Caxias do Sul, é a própria essência de uma vida dedicada ao agricultor. Aos 84 anos, Valmir carrega não apenas décadas de experiência, mas uma missão que ele abraçou ainda jovem: defender o pequeno produtor e assegurar dignidade à vida no campo.
O ponto de virada ocorreu cedo, quando Valmir precisou assumir o sustento da família aos 16 anos, após uma longa doença do pai. “Meu pai ficou 10 anos e meio doente, e tivemos que vender parte das terras para pagar médicos e hospital. Naquele tempo, o agricultor não tinha nenhum tipo de assistência”, recorda. A desvalorização do trabalho no campo e a falta de segurança despertaram no jovem agricultor a vontade de mudar aquele cenário. Foi o início de uma jornada que se transformaria em um compromisso para toda a vida.
Nos anos 1960, Valmir já participava ativamente da Frente Agrária Gaúcha, movimento precursor do sindicalismo rural, que buscava dar voz aos trabalhadores. Com a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, ele enfrentou de perto as dificuldades dos produtores. “O agricultor ia para a cidade e não tinha nem onde ir. Lutávamos para que ele tivesse atendimento médico e aposentadoria, porque, naquela época, não existia nada disso”, relembra.
Entre as crises que marcaram a viticultura gaúcha, Valmir viu de perto o desespero dos produtores durante os anos 1970. Com estoques de vinho acumulados e pagamentos atrasados por várias safras, a situação parecia insustentável. “Depois de um trabalho intenso, conseguimos a fixação do preço mínimo pelo governo, o que trouxe algum alívio”, conta.
A atuação de Valmir não se limitou às crises locais. Ele esteve em Brasília, levando as demandas dos agricultores ao Ministério da Agricultura, buscando fiscalização e políticas que pudessem proteger o setor da fraude e da desvalorização. Segundo ele, foi esse esforço coletivo que colocou a viticultura brasileira em outro patamar, permitindo que, hoje, os vinhos, sucos e espumantes do Brasil possam competir com qualquer país do mundo.
Valorização
Para Valmir, a pequena propriedade sempre esteve no centro das suas preocupações. Ele acredita que a falta de políticas públicas e de incentivos, como o seguro agrícola, tem afastado os jovens do campo. “Se o agricultor não tem garantia de renda, ele não fica no meio rural. Precisamos dar segurança, mostrar que é possível viver bem no campo, com tecnologia e apoio”, afirma.
Apesar dos desafios, Valmir vê o futuro com esperança. Ele defende a diversificação da produção e acredita que o enoturismo é uma oportunidade para impulsionar a viticultura, especialmente na Serra Gaúcha. “O turista quer um bom vinho, uma boa gastronomia, e a nossa região tem isso de sobra. Precisamos continuar investindo nisso”, destaca.
Legado
Ao longo de sua trajetória, Valmir Susin coleciona conquistas, mas mantém os pés firmes na terra que o formou. Seu maior legado, ele acredita, é a luta pela qualidade de vida do pequeno produtor. “Garantir que o agricultor tenha condições dignas de trabalho e segurança no campo é o que me moveu a vida inteira”, diz com firmeza.
Para os jovens que hoje encaram o desafio de assumir o legado de suas famílias, Valmir deixa um conselho simples, mas profundo: “O campo é vida. Se preparar, buscar conhecimento e investir na produção é a chave para um futuro melhor.”
Em cada palavra, Valmir Susin transmite não apenas a sabedoria de quem viveu a transformação do setor vitivinícola, mas a paixão de quem nunca desistiu de lutar por um campo mais justo e valorizado. Aos 84 anos, ele ainda olha adiante, acreditando que há sempre mais a ser feito — porque, como ele mesmo diz, “a vida no campo vale a pena, desde que seja digna para quem a escolhe”.