Centrais de Abastecimento garantem o alimento dos gaúchos

Ceasa de Porto Alegre controla mais de 40% dos hortigranjeiros consumidos no Estado

 

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Três vezes por semana, o agricultor Marcos Mattius desce a Serra rumo à Porto Alegre com o caminhão da família carregado de hortigranjeiros. Seu destino é a Ceasa, na zona Norte de Porto Alegre. A propriedade da família, localizada em Vila Cristina, em Caxias do Sul, tem o perfil característico da agricultura familiar da Serra Gaúcha. Na carga ele leva alface, beterraba, couve, abóbora, pepino e outras hortaliças.

Mattius é um dos 2.007 agricultores cadastrados e autorizados a ocupar um dos 960 espaços de comercialização de produtos no Galpão dos Produtores. Apesar de reclamar dos custos elevados para colocar no mercado a produção – o custo de transporte e a comercialização equivale a 15% da receita bruta – o agricultor afirma que a Ceasa ainda é o melhor espaço para comercialização da agricultura familiar.  A Central tem ainda outros 300 permissionários que ocupam espaços maiores na estrutura da Central de Abastecimento, contando, inclusive, com câmaras de resfriamento para armazenar seus produtos.

 

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O agricultor Marcos Mattius vai semanalmente a Porto Alegre vender seus produtos.

Estrutura
A estrutura da Ceasa de Porto Alegre tem 73 mil metros quadrados de área construída. No espaço é oferecido um mix de 110 produtos, oriundos de 109 municípios gaúchos, 18 Estados brasileiros e sete países. Além de hortigranjeiros, são ofertadas flores, frutas, ovos, carnes e peixes. São 24 mil produtores cadastrados. O presidente da Ceasa, Paulino Donatti, explica que mais de 75% dos produtos comercializados na Ceasa têm origem na agricultura familiar. O volume comercializado chega a 540 mil toneladas por ano. Os agricultores da Serra Gaúcha são os grandes fornecedores. Em 2012, por exemplo, a região movimentou 35,98% de todas as vendas realizadas. Em seguida veio o Vale do Caí, com 15,24%, e o litoral, com 14,16%. O Rio Grande do Sul abastece 69% do total dos produtos vendidos. O restante é proveniente de outros Estados e países. Entre os importados, o maior volume vem da Argentina, com 10,7 milhões de quilos, depois da China com 2,2 milhões de quilos e a Espanha, com 1,8 milhão de quilos. Também há importados do Chile, Uruguai, Itália e Estados Unidos.

Entre os municípios da Serra, em 2012, Caxias do Sul liderou o volume de vendas. O valor chegou a R$ 56,6 milhões; seguido de Flores da Cunha, com R$ 13 milhões; Nova Pádua, R$ 8,5 milhões; Vacaria, com R$ 4,8 milhões; e Farroupilha, com R$ 4,7 milhões. Também tiveram participação expressiva Ipê, Nova Petrópolis, Carlos Barbosa, Nova Roma do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves, Cotiporã, Antônio Prado e São Marcos, que, nesta ordem, compõe o ranking de participação dos municípios da Serra. No ano passado, o total de vendas de produtos gaúchos na Ceasa foi de R$ 274,1 milhões.

 

Como funciona
O presidente da Ceasa explica que a Central funciona como um controlador e regulador de mercado. Ela opera os espaços de comercialização e faz pesquisa permanente dos preços para orientar os vendedores. Cada agricultor que ocupa o espaço no Galpão do Produtor pode sair de casa sabendo dos preços praticados no dia visitando o site www.ceasa.rs.gov.br. A Ceasa oportuniza os espaços e quem dialoga com o comércio é o permissionário. Os produtores, de modo geral, constituem grupos de vizinhança, que se organizam para comercializar. Então, uns trazem produtos de outros para disponibilizar ao mercado. Esse sistema foi criado no início dos anos 1990 para que todos os agricultores interessados possam se inserir em grupos associativos para facilitar as vendas. “Muitas vezes um veículo traz produtos de quatro ou cinco agricultores”, explica. Uma boa notícia revelada por Donatti é que ainda existem muitos espaços disponíveis para locação aos agricultores que desejarem se cadastrar para comercializar seus produtos.

 

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Presidente da Ceasa Paulino Donatti.

Controle de qualidade para comercializar
Ainda de acordo com o presidente da Ceasa Porto Alegre, o controle de qualidade de tudo o que é comercializado será ampliado. A partir de um Termo de Ajuste de Conduta, assinado entre a central de distribuição e o Ministério Público Estadual, será implantado o ‘Programa de Monitoramento de Qualidade de Produtos Hortigranjeiros’.  Donatti explica que esta iniciativa atende a uma demanda da sociedade por maior segurança alimentar e qualidade nos produtos comercializados no Rio Grande do Sul.  Serão recolhidas 20 amostras por semana para análise no Laboratório Central do Estado, com emissão de laudo sobre a existência de agrotóxicos. No caso de constatada aplicação de agrotóxico de uso proibido no país, o produtor terá suspensão de vendas pelo prazo de um ano. No caso de utilização de agrotóxicos acima do limite máximo de resíduo ou desrespeito ao prazo de carência, será exigida a participação de um curso de Boas Práticas Agrícolas (BPA) para receber orientação técnica, tendo, ao mesmo tempo, suspensão progressiva de tempo de comercialização. Essa iniciativa visa combater o risco nutricional, uma vez que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico, com a utilização de 19% do total usado no mundo inteiro. Em média, cada brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxico por pessoa a cada ano.

 

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Espaço para as agroindústrias
Uma das novidades na Central de Abastecimento é a abertura de espaços para as agroindústrias familiares. “Queremos oportunizar para cooperativas e associações de produtores abertura de espaço”, adianta Paulino Donatti.  Será lançado nas próximas semanas um edital com a criação de 40 espaços para esse segmento da produção agrícola. Donatti revela que este é um compromisso da Secretaria de Desenvolvimento Rural para dar vazão aos alimentos industrializados em unidades familiares de produção. O dirigente explica que poderão concorrer a este espaço as associações formalizadas e legalizadas. “Haverá controle e inspeção de todos os itens comercializados, para que o consumidor possa ter garantia de qualidade do produto e segurança da origem e procedência, além de observar a questão tributária, para o devido retorno aos municípios”.

 

“É preciso saber negociar”
Nestor Sonda, 58 anos, é agricultor no município de Nova Pádua. Quatro vezes por semana ele deixa a propriedade localizada no Travessão Mützel para comercializar sua produção na Ceasa de Porto Alegre. A venda de frutas, que produz em conjunto com seu irmão, é o foco de sua atividade. Entre ameixa, pêssego, maçã, pera e uva, o volume vendido por ano chega a 160 mil quilos. O produtor salienta que está na atividade há muitos anos. “Cada vez mais é exigência para o agricultor produzir alimentos com qualidade. Aqui vale a lei da oferta e da procura. E quem tem um produto de qualidade para oferecer leva vantagem no preço e no volume comercializado”, conta.  Além desse item, Sonda tem outro ensinamento recolhido em mais de 30 anos de atividade. “É preciso saber negociar, encantando o freguês”, destaca.

 

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Nestor Sonda vende cerca de 160 mil quilos de frutas por ano.

 

Na Região, atendimento para 11 municípios
Com uma venda direta e pagamento rápido, o Ceasa tornara-se um negócio lucrativo que também valoriza a produção local

Uma sociedade por ações de economia mista, a Central de Abastecimento (Ceasa) atua em todo o Estado como uma maneira de interligar o cliente e o produtor de uma forma direta e facilitada, ajudando o agricultor a vender seu produto com um preço melhor e, o cliente, a adquirir uma mercadoria de qualidade. A Ceasa Serra, instalada em Caxias do Sul, atende a 11 municípios da Serra Gaúcha e hoje tornou-se a principal forma de negócio para muitos agricultores além de ter números representativos. Em 2012 foram comercializados mais de 35 milhões de quilos de hortifrutigranjeiros, representando mais de R$ 40 milhões. Números que devem aumentar neste ano.

 

Michael-Mazzochi_O espaço em Caxias do Sul foi inaugurado no início dos anos 1980 e por algum tempo administrado pelo governo federal, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No final dos anos de 1980 passou para o governo do Estado e, em 1998, por meio de um consórcio – a Administradora de Consórcios Intermunicipais (Adcointer) – a Ceasa integrou a administração municipal de Caxias do Sul, com parceria de mais 10 municípios da região: Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, São Marcos, Ipê, Nova Roma, Protásio Alves, Garibaldi, Nova Petrópolis e Farroupilha. A criação do consórcio garantiu a permanência do serviço na Serra.

 

A Adcointer completa neste ano 15 anos de trabalho junto aos produtores e clientes. A Ceasa Serra conta com um espaço de mais de 7 hectares e é dividida em três grandes grupos: os produtores, os atacadistas e os compradores. O gerente técnico operacional, Antonio Garbin, destaca, além da estrutura física, a parte administrativa. “Hoje a Ceasa Serra é a única no Brasil administrada pelo município e que conta com o consórcio. Temos uma boa e enxuta estrutura que garante a gerência. A Ceasa não se envolve com o comércio diretamente, ela administra o complexo. O produtor, atacadista e o comprador contam com um mercado livre, aberto e com oferta e procura”, explica Garbin.

 

A Ceasa se mantém com a locação dos espaços – as ‘pedras’, pagas mensalmente pelos produtores; e os boxes, pagos pelos atacadistas. Produtores de outras cidades também podem integrar a Ceasa Serra, como já vem acontecendo. Os municípios que fazem parte da Adcointer não colaboram com valores fixos. “Temos municípios de todo o Estado e percebemos nas vantagens desse trabalho da Ceasa e da Adcointer a manutenção de uma Ceasa próxima das cidades e, ao mesmo tempo, em um centro”, avalia o coordenador.

 

Expectativa que cresce
Há um ano a produção do agricultor Michael José Mazzochi, 30 anos, está sendo vendida na Ceasa Serra. Morador de São Braz, interior do bairro caxiense de Ana Rech, Mazzochi leva para a Ceasa maçã, caqui, uva, ameixa e pêssego quase todos os dias. Para ele o local auxilia em uma venda de qualidade e com preços bons. “No início a conquista pela clientela é difícil. Lembro que no primeiro dia não vendi nada. Mas com o tempo o comprador percebe a qualidade. Às vezes vendemos menos, mas com um valor um pouco maior”, sustenta Mazzochi.
A produção familiar é diversificada e garante clientes de vários gostos. “Podemos fazer um trabalho de muitas culturas que aqui sempre teremos venda. Um exemplo é a maçã, que vendemos durante todo o ano. Aprendemos a lidar com a concorrência no mercado e jogar com os produtos dependendo da época”, completa o agricultor, acompanhado da esposa Nadiele Mazzochi, 24 anos.

 

Celito-Palandi_Ganhando o mercado e o consumidor
Nos últimos 10 anos a Ceasa ganhou mais espaço e conquistou o mercado. “Hoje temos 220 espaços para produtores, com uma infraestrutura muito melhor e que acompanhou a demanda. Os produtores cresceram assim como os compradores. A qualidade que temos na Ceasa Serra é muito grande. Os produtos são de qualidade e cada vez com maior diversidade, já que a maioria conta com três ou quatro produtos”, destaca Garbin. A Ceasa Serra conta com 650 produtores cadastrados. Por dia frequentam a feira de 100 a 120, dependendo das suas safras. Das 220 ‘pedras’ existentes, 190 estão ocupadas. O restante permanece à disposição de pequenos agricultores que não vendem durante todo o ano.

 

Os produtos seguem para toda a região e também para outros Estados brasileiros. A venda é aberta para qualquer cidadão, seja em uma quantidade maior de produtos ou em número fracionado. A Ceasa Serra conta também com depósitos alugados para empresas que levam grandes cargas. “Essa foi uma forma de trazer novos clientes, que agora compram aqui e distribuem pela região”, avalia Garbin.
A Ceasa Serra abre na segunda-feira, às 6h da manhã, e de terças a sextas-feiras, às 15h.

 

Como se cadastrar
Para que o produtor possa vender seus produtos na Ceasa uma série de documentos e requisitos devem ser apresentados. A pessoa interessada deve ser um produtor ou contar com um contrato de arrendamento ou parceria. Deve possuir também propriedade registrada em seu nome e talão de produtor.
O contrato de aluguel é feito por cinco anos e pode ser renovado por mais cinco. O valor da ‘pedra’ por mês é de R$ 186 para produtor individual; R$ 206,94 para sociedade (duas pessoas); R$ 227,88 (grupos de três pessoas); e R$ 248,82 para quatro produtores. O valor da diária é de R$ 22.

 

Ceasa-Geral_Neste valor, 60% representa as despesas (água e luz) e os 40% restantes do Termo de Permissão Remunerado de Uso (TPRU). O valor do box varia em R$ 1,3 mil. Os documentos necessários são: negativa da escritura (ou contrato); talão do produtor; declaração expedida pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) ou Emater, especificando a produção (o documento deve ser renovado a cada seis meses); identidade, CPF, Título de Eleitor e negativas da polícia.

 

Três décadas de Ceasa
O agricultor Celito Palandi, 62 anos, é um dos produtores mais antigos da Ceasa Serra. Ele e a esposa Jocelita Rech Palandi, 57 anos, vendem na feira parte da produção de maçã, pera, ameixa, caqui, além dos hidropônicos como alface, rúcula e radici. Uma média de 30% da produção é vendida em Caxias. E entre as vantagens está o pagamento à vista.

 

Todas as semanas, nas terças e quintas-feiras, há 30 anos, Palandi vende na Ceasa parte da safra produzida no bairro Ana Rech, em Caxias do Sul. Seus produtos vão também para São Paulo. A rotina da Ceasa já é tradicional e garante um pagamento diferenciado. “Vai de cada produtor se adaptar a essa forma de venda. Para nós a grande vantagem é o pagamento em dinheiro e à vista. Assim já podemos pagar algumas contas diárias da propriedade”, complementa Palandi.

 

O agricultor Celito Palandi, 62 anos, é um dos produtores mais antigos da Ceasa Serra. Ele e a esposa Jocelita Rech Palandi, 57 anos, vendem na feira parte da produção de maçã, pera, ameixa, caqui, além dos hidropônicos como alface, rúcula e radici. Uma média de 30% da produção é vendida em Caxias. E entre as vantagens está o pagamento à vista.

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