OIV deve apresentar recomendações para vinhos desalcoolizados e parcialmente desalcoolizados em junho

Documento técnico é resultado de anos de debates e pode abrir caminho para avanços no Brasil, que ainda carece de regulamentação sobre o tema

A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) deve aprovar em Assembleia Geral durante seu congresso anual marcado para acontecer entre 16 e 20 de junho, na Moldávia, um documento técnico com recomendações sobre práticas enológicas aplicáveis aos vinhos desalcoolizados e parcialmente desalcoolizados. O anúncio representa um avanço significativo em um tema que vem sendo debatido há mais de uma década no âmbito das Comissões de Enologia e de direito e Comércio da entidade.

De acordo com Fernanda Spinelli, representante brasileira na Comissão de Enologia da OIV e pesquisadora do LAREN/SEAPI, a proposta já foi aprovada internamente nos grupos técnicos da organização e está pronta para ser apresentada à Assembleia Geral. “Há um consenso construído ao longo dos anos entre os países membros, o que dá boas perspectivas de aprovação”, afirma.

A grande dificuldade no desenvolvimento de vinhos com teor alcoólico reduzido está na perda de compostos importantes durante o processo de desalcoolização, como aromas, componentes estruturais e elementos de sabor. “Quando removemos o álcool, perdemos também componentes que dão equilíbrio ao vinho. Por isso, foram estudadas técnicas que permitam devolver parte do que foi retirado”, explica Fernanda.

Entre os métodos discutidos, estão o uso de concentrado de uva para ajustar corpo e sabor, a adição de glicerol (autorizada em alguns países), o uso de cortes (blends) com outros vinhos para equilíbrio sensorial, além do uso controlado de insumos enológicos.

Interesse crescente no Brasil

Fernanda Spinelli, representante brasileira na Comissão de Enologia da OIV

Embora o Brasil ainda não tenha uma regulamentação específica para vinhos desalcoolizados, a movimentação no mercado já começou. Algumas empresas estão lançando bebidas sem álcool oriundas do vinho, mas essas acabam sendo enquadradas como bebidas mistas, justamente por falta de uma categoria legal para vinhos desalcoolizados.

“Ainda não temos legislação que reconheça o vinho desalcoolizado, mas isso deve mudar em breve. Já vemos produtores brasileiros interessados nas técnicas de desalcoolização, testando processos e de olho nessa tendência mundial”, aponta Fernanda.

A delegada brasileira reforça que há espaço para o produto, principalmente junto a novos perfis de consumidores, como os mais jovens ou pessoas que não podem consumir álcool. “Não vejo isso como perda de mercado. Pelo contrário: é uma oportunidade de alcançar públicos que hoje não consomem vinho, mas gostariam de consumi-lo sem álcool”, avalia.

Um vinho desafiador

O processo de desalcoolização é complexo e exige domínio técnico para preservar as características sensoriais do vinho. “É um vinho mais difícil de equilibrar. Temos muitos desafios, inclusive em relação à estabilidade do produto nas prateleiras”, destaca Fernanda. Segundo ela, o consumidor que busca um vinho desalcoolizado é, em geral, alguém mais consciente e exigente quanto à qualidade e procedência do que consome.

A expectativa é que até 20 de junho seja anunciada a publicação oficial do novo documento da OIV. Uma vez lançado, o texto poderá servir de base para países que, como o Brasil, ainda não possuem regulamentação própria sobre o tema. A partir daí, caberá ao setor vitivinícola brasileiro avaliar caminhos para a incorporação segura e regulamentada desses produtos no mercado nacional.

A participação de especialistas brasileiros nos debates da OIV é fundamental para garantir que as realidades e necessidades locais sejam consideradas, além de preparar o setor para tendências globais que já se consolidam em mercados maduros, como Alemanha, Espanha e França. Para Fernanda Spinelli, acompanhar e participar dessas discussões técnicas é o primeiro passo para que o Brasil se posicione de forma estratégica neste novo nicho de mercado.

 

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