Boas perspectivas para a safra do alho

O alho é um ingrediente tradicional da culinária brasileira, pode ser consumido cru, assado, frito ou cozido. O Brasil contabiliza um consumo mensal de alho de 2,2 milhões de caixas de 10 quilos por mês. Mas, apesar de sua presença constante na gastronomia, o país produz apenas 30% do consumo anual. Isso representou, em 2012, cerca de 108,4 mil toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia de Estatísticas (IBGE). No total, o Brasil consumiu 229 mil toneladas. Dados esses que devem sofrer uma pequena modificação em 2013. A safra ainda não começou na região Sul – a previsão é a partir de novembro -, entretanto os cuidados com a plantação já. Conforme o técnico agrícola da Emater/Ascar de São Marcos, Fabiano Varela, a semeadura foi finalizada, o clima colaborou, a adubação e a cobertura foram feitas no tempo certo, o que tem garantido uma sanidade muito boa do produto. “A perspectiva inicial é muito boa, mas como o alho tem um ciclo longo é difícil falar em números porque um período de seca pode prejudicar o plantio”, atesta.

 

São esses cuidados que devem incrementar, segundo conjuntura da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 11% a safra 2013 da hortaliça, o que acarretará uma produção de 120,4 mil toneladas. No Rio Grande do Sul a projeção é  colher cerca de 18 a 20 mil toneladas, mesmo índice de 2012, visto que os hectares da produção se mantiveram quase iguais. “Ainda é cedo para conjunturas, mas tudo indica uma safra excelente. Vai depender do comportamento do clima nos próximos meses, mas as lavouras estão com boa sanidade e o desenvolvimento apresenta boa uniformidade”, afirma o presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Alho (Agapa), Olir Schiavenin.

 

Preço
A comercialização do produto tem sido o maior gargalo da cultura. Nos últimos dez anos, o alho nacional enfrenta a forte concorrência com o produto importado. Das 229 mil toneladas consumidas em 2012, 121 mil toneladas foram de alho estrangeiro. Cerca de 56% desse volume é proveniente da China, 39% da Argentina e o restante de exportadores menores. Conforme a analista de mercado da Conab, Ana Rita Freddo, essa entrada maciça de alho importado da China e da Argentina resulta em reduções de preço. “Entre junho e agosto a oferta é reduzida, o que pode ser caracterizado como um curto período de entressafra do alho nacional. Era de se esperar que os preços apresentassem elevação neste período, o que não ocorre devido a entrada do produto importado”, aponta a analista.

 

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A comercialização do produto tem sido o maior gargalo da cultura. Nos últimos dez anos, o alho nacional enfrenta a forte concorrência com o produto importado. (Foto: Danúbia Otobelli)

 

De acordo com a conjuntura mensal da Conab, o preço pago ao produtor no mês de junho estava em torno de R$ 6 a R$ 7,48. Para o atacado, o valor do alho nacional era de R$ 7,13, enquanto que o chinês girava em R$ 5. “O preço no mercado hoje está bom, melhor do que na época de comercialização, mas tudo depende da China”, diz Schiavenin.

 

A produção chinesa, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, foi de 13,67 milhões de toneladas em 2010. Desse total, 90% é consumido no mercado interno e o restante de 1,36 milhão de toneladas é exportado para aproximadamente 16 países, como o Brasil. O país adquiriu 97,2 mil toneladas em 2010; 100,6 em 2011; e 88,3 mil em 2012.

 

Diminuição
Essa concorrência tem levado produtores gaúchos a diminuírem suas plantações. Um município como São Marcos, que já foi o maior produtor de alho do Estado, reduziu gradativamente sua área plantada. Conforme dados da Fundação de Economia e Estatísticas (FEE) do Rio Grande do Sul, em 2000 o município possuía uma área de 650 hectares; em 2003 baixou para 400 hectares; 2011 para 300 hectares; e 2012 para 240 hectares. Para esse ano, a projeção da Emater local é de 200 hectares plantados. Em contrapartida a isso, municípios como Ipê aumentaram seu plantio. Em 2000, Ipê tinha 50 hectares de alho; em 2003 passou para 350 hectares e em 2011 estabeleceu em 300 hectares. Muitos dos produtores de Ipê são oriundos de outros municípios.

 

Uma das alternativas para confrontar o mercado é antecipar a safra. O produtor Vanderlei Suliani (veja quadro) tem buscado isso. De acordo com o técnico agrícola Fabiano Varela, o uso de sementes precoces, que ficam em câmaras frias antes do plantio, diminuem o ciclo do alho e contribuem para reduzir o perfilhamento e o custo de produção. “Isso porque as principais doenças ocorrem em outubro e com a safra antecipada não se corre esse risco”, diz.

 

Outro ponto vantajoso é a comercialização. Colhido antes, o produto não concorre no mercado com o alho normal, que geralmente é comercializado em fevereiro. “Isso agrega valor ao produto”, destaca Varela.

 

Números do Estado
Área: 1.800 hectares
Produtividade: 18 mil toneladas
Produção média: 10 toneladas por hectare
Mão de obra: 18 mil pessoas
Características: pequenos produtores

 

Importação
Janeiro a maio de 2013: 1.238.824 caixas de alho chinês
Janeiro a maio de 2013: 627.680 caixas de alho argentino
– Para obter sabor similar a um dente de alho nacional, são necessários cinco dentes de alho chineses.
– O alho nacional contém mais alicina, que tem propriedades antioxidantes e antibióticas
– O recomendado é consumir de três a quatro dentes crus por dia.
(Fonte: Associação Nacional dos Produtores de Alho – Anapa)

 

Variedade precoce garante competitividade no mercado

 

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Vanderlei Suliani deve colher sua produção em outubro, pelo menos um mês antes da safra comum. (Foto: Danúbia Otobelli)

 

O produtor de São Marcos, Vanderlei Suliani, 36 anos, fez uma aposta na sua plantação de alho para essa safra. Seu plantio de um hectare na Linha Santana deverá ser colhido no final de setembro, dois meses antes da safra normal no Estado. Isso ocorre porque Suliani tem sua produção focada no alho precoce e, nesta safra, realizou um teste com as sementes da hortaliça. Ele se utilizou da tecnologia da câmara fria, colocando as sementes de alho no equipamento entre 45 a 70 dias antes do plantio para que essa produza. As primeiras mudas foram plantadas no final de maio e em torno de 120 dias após o plantio, o alho começa a bulbificar e os dentes a surgir.

 

Com isso, parte da safra deverá ser colhida no final de setembro e a outra – que ficou menos tempo em câmara – na metade de outubro. A ideia de Suliani com o método é colocar no mercado um alho antes da safra, o que renderia um preço melhor. “A perspectiva é colher cerca de 10 toneladas e com uma sanidade muito boa, pois fiz tratamentos mais leves, com produtos mais brandos e a cada oito a dez dias. A safra desse ano deverá ser satisfatória”, diz o produtor. A média de preço deve ficar em torno de R$ 5 a R$ 6, bem acima do conquistado na safra de 2011, quando o valor girou em R$ 2,20 e resultou em prejuízo para Suliani. “Esperamos que se mantenha nessa faixa se a taxa antidumping for mantida”, frisa.

 

A escolha pelo alho precoce, além da garantia entressafra, é por causa do ciclo menor, entre 120 a 130 dias, e da menor quantidade de tratamento. Porém, sua produtividade também é reduzida. Fica em média de 4 a 6 toneladas por hectare. “Compensa de um lado, mas perde-se de outro”, explica Suliani, que planta alho há 25 anos e sempre dessa classificação. “Tem que continuar sempre e não se esse ano não deu bom parar com a plantação”, ensina o agricultor, que anota todos os passos realizados nas culturas de sua propriedade. Além da plantação de alho, Suliani possui culturas de laranja, uva de mesa e está engatinhando no plantio de nozes. “Optei pela diversificação para conseguir ter uma renda durante todo o ano”, pontua Suliani, que diz que o alho é a cultura que mais demanda mão de obra e trabalho. Em média, o custo de implantação da hortaliça é de R$ 30 a R$ 35 mil por hectare. A produção de Suliani é comercializada para um atacadista de São Marcos.

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Respostas de 4

    1. Boa tarde, Sr. Valdir. De que cidade o senhor é? Se fores aqui da nossa região (Serra Gaúcha), podemos marcar uma visita para o senhor em alguma propriedade daqui.

      Obrigada pelo contato.

      Equipe A Vindima

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